tag:blogger.com,1999:blog-21543141837673134032024-03-05T15:36:07.563-08:00se podar eu volto mudaLetícia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/08417226535943169376noreply@blogger.comBlogger87125tag:blogger.com,1999:blog-2154314183767313403.post-8819557084668724292020-04-13T18:34:00.002-07:002020-04-13T19:17:17.427-07:00interruptor<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"> na quarentena forçada em meu quarto uma solidão dimerizável sem controle avança enquanto escureço. cresce conforme quer, retira-se quando recorro a amigos, encolhida corcunda dedos rápidos cabeça ofegante não estou mexendo quase parte nenhuma do corpo. transpiro ansiedade e como depressão, a comida me dá enjôo com os novos remédios, a comida preferida tem gosto de cinzas. numa interação digital envio uma cara chorando de tanto rir que me respondem com uma cara com dois corações no lugar dos olhos. não me acostumei a ver amigos muitos nem sempre. fazer amizade comigo mesma se tornou um alívio, é processo já iniciado. quero escrever que estamos quase íntimas mas troquei o espelho para um canto do quarto em que corro menos risco de trombar comigo. deitada na cama sem pés, colchão no chão de madeira, vejo o reflexo da luz amarela que explica cada móvel, peças de minha época de escola. tenho lido livros guardados desde o ensino médio em busca do tempo perdido em passatempos inúteis, quando meu cérebro era uma esponja e se debruçava sobre sujeiras que pouco me qualificaram para enfrentar a dureza de uma pandemia. </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"> sei dosar quanto de notícias assistirei, quantas páginas lerei, quantas horas de pós-graduação on-line e quantos quilos de chocolate derreterei, mas perco a mão estupidamente quando me adentra um bocado voraz de solidão. apago a lâmpada principal e crio aconchego de abajur, tomo o banho mais quente que minha pele suporta e escrevo uma carta de amor de próprio punho em comemoração a um ano de namoro com o menino mais encantador que conheci. já tentei sarar fazendo as unhas, polichinelos, cantando, apertando meu cão contra meu colo. já tentei sarar lavando a louça, doando o desnecessário, me masturbando, ouvindo elza soares. já tentei sarar vendo vídeos sobre todo desconforto psicológico e associando meu quadro a minha época, minha infância, meus genes e meus hábitos. segundo o teste de personalidade big five realizado hoje, tenho motivos para me orgulhar de mim e de fato estou orgulhosa de algumas coisas que tenho feito. já tentei agir como se fosse tudo fantasia e fui genuinamente feliz por dois dias seguidos. </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"> deito-me aquecida ao lado de um copo d’água sem cor, sem brilho, sem gosto. é o maior milagre do mundo, água é o mesmo que mãe. abraço um travesseiro do tamanho de uma pessoa e busco por acidente o pé de meu namorado com os meus. faço um carinho proposital na parte interna de meu antebraço e procuro dissolver-me em sono. o tempo irá passar e mais cedo do que imaginava os amestradores raios de sol iluminarão cada pedaço dessa prisão. se apenas eu conseguir adormecer. </span><br />
<div>
<br /></div>
Letícia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/08417226535943169376noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2154314183767313403.post-50534675831551202432019-04-16T11:51:00.001-07:002019-04-16T19:11:27.137-07:00o final de semana em que o chefe da menina se casou<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">no quarto do menino não havia TV e quando </span><span style="color: #666666; font-family: verdana, sans-serif;">a menina</span><span style="color: #666666; font-family: verdana, sans-serif;"> </span><span style="color: #666666; font-family: verdana, sans-serif;">ficava lá eles eram obrigados a fazer beijos abraços lambidas carinhos suaves e pesados eles eram obrigados a se morder e raspar até a pele e os ossos os músculos cansarem. à noite eles se deitavam como fios de fone de ouvido em nós difíceis de desfazer e respiravam ora silenciosa ora sonoramente em composições de dois instrumentos, o nariz e as sujeiras. acordavam, gemiam num único staccato, adormeciam.</span><br />
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">antes do quarto sem TV ocuparam o menino e a menina assentos no mezanino do teatro ao lado das câmeras muitas que filmavam a orquestra que eles não sabiam mas tocava num dia muitíssimo especial e as senhoras ali iam de vestidos longos e coques e os senhores ali pressionados em cintos e gravatas acenavam olá mas o menino vestia seu tênis de andar em trilha e a menina bateu palmas quando entrou o violinista que apenas dava o lá. entre movimentos o menino complementava as partituras com toques de seus dedos nos fios da barba em seu rosto, não eram barulhos eram música, qualquer tempo em que se juntassem à sinfonia tornavam-na melhor. o menino dividia de bom grado a regência do maestro com seus sons de inspirar e mudar a disposição das pernas. a menina ouviu com importância e julgou que tudo estava barbaramente harmônico.</span><br />
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">no dia seguinte do quarto sem TV a menina levou de sua casa para a casa do menino: </span><br />
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">1 unidade de vinho tinto </span><br />
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">1 unidade de queijo chancliche</span><br />
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">ao que juntaram tudo isso com outras coisas de comer como pistaches, porque o menino tinha com eles incrível afinidade, como macadâmias sem torra e sem sal, porque a menina não encontrou as torradas e salgadas, depois perguntou ao moço que as vendia se havia, ele disse que sim e a menina disse, não quero. comeram com temperos regaram com limão o que mastigaram ao som de vinil no toca-discos que tinha seus macetes de manuseio, um aparelho que só tocava para quem tinha vocação nos dedos. o menino tinha jeito nas mãos e despejou o sauvignon em copos de beber água que harmonizaram perfeitamente com tudo o que vinha acontecendo ali. ele disse, esse é suavignon e a menina riu.</span><br />
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">retornaram então ao quarto sem TV, viram o filme de si livre de quaisquer outros personagens. sumiram com o figurino fizeram dos álbuns de jazz salvos no spotify seus figurantes, beberam água de vez em quando para unir as cenas. cansaram de tudo isso já bem tombados de thc e enrolaram-se nos fios de fone de ouvido, a menina esmagada na parede o menino esmagando a menina demais. a menina acordava esmagada e pensava, isso é o máximo.</span><br />
<br />Letícia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/08417226535943169376noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2154314183767313403.post-67404087699904706112019-04-01T09:35:00.001-07:002019-04-01T09:42:53.527-07:00vaso<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">devoro aos finais de semana uma carcaça que muito me delicia nos cheiros e na cara ardida que tem. falamos de muito assunto besta. falamos de computadores e a paliação do sistema de cotas. depois, rimos de nervoso e antecipação e, até que enfim, nos deitamos em disposições pecaminosas, após as quais resto amarga.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">termino com mais fome do que antes de começar a comer.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">não raramente volto a me perguntar por que dou início a essa intoxicante comensalidade. sinto-me indisposta a fazer parar também. abstinência é grave e consciência roda tonta ao fundo da garrafa de cerveja que dividimos. procuro um arroto propício à semeadura.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">termino encharcada com os olhos secos.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">no caminho de volta, numa caixa de metal com pneus de borracha das árvores, dirijo observando plantas que se desenham dizendo quem são. cresceram em tal direção pois lá se derramava mais sol, dobraram para qual lado o vento empurrasse com maior firmeza e hábito. não sei o nome de nenhuma delas, se são acácias ou oliveiras ou marias eduardas, se seguram flores para daqui mais mês ou se irão apenas esverdear. mas entendo num elã que não são trepadeiras. rompem o solo sozinhas e sustentam-se por décadas num silêncio revigorantemente independente. ascendem com água, oxigênio, luz e nada. numa caixa de metal com pneu sangrado das árvores pergunto-me se este fruto que conduz é daqueles que tombam do alto para nunca vingar.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">pode ser que seja só isso.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">volto em cama de casa, cama antiga de colchão dobrado segundo meu peso, moldada para acomodar-me sozinha. fecho os olhos, quero fechar a janela mas já deitei, fecho a alma, engulo pontinhos de luz do quarto que saem dos eletrônicos. sinto-me máquina de fazer esfregação. quero pertencer como os flocos de algodão antes da colheita, espalhar hormônios bonitos pela coluna de ar sem mira certa sem contraparte. mas só tenho o depois, lençol de tecido lavado sem rasto de vida ou morte. gostaria que isso soasse menos grave porque no cotidiano minha cabeça é na verdade confusa, não tão palavrosa nem um pouco enraizada. </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">decerto um sonho de adeus fará despertar finais no próximo contato, preciso ir, não há nada em você, tenho muito a fazer, não pudemos encaixar além de partes físicas, não me chame mais. guarde-me em sua memória como um girassol apaixonado pela lua, lançando sementes ao concreto, bebendo aos joelhos do que vem de cima.</span><br />
<br />
<br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span>
Letícia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/08417226535943169376noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2154314183767313403.post-14480813549702288682019-03-22T11:43:00.001-07:002019-03-25T20:46:09.555-07:00<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">deixo de dizer coisinhas</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">num impulso de soterrar encolho</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">os termos o ombro direito mais</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">pensei que falei mas foi um respiro</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">espero a hora de tornar-me nascida</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">exterior e proclamada</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">aguardo e sem dar um pio</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">relaxo o trapézio gemendo </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">mentalmente</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">é o lado de meu pai a naturóloga</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">explicou que é mais pesado</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">preciso alinhar-me com ele então</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">o ombro direito fará silêncio</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">canto o dia inteiro</span></span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">tenho a certeza os vizinhos me odeiam</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">escolho as músicas menos agudas</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">para não aguentar e tocar as mais</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">na hora de gritar desafino</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">se estou no carro acerto</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">imagino os vizinhos ressentidos deixo </span>a voz quebrar </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">perguntavam o que seria quando </span></span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">crescesse eu dizia artista plástica</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">uma mulher riu chamou-me pobre</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">minha mãe riu com ela era cliente</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">pensei que minha mãe pensasse também </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">que arte era ofício de falido</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">falei mesmo assim muitas vezes</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">depois que seria artista quem sabe</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">uma escritora ou cantora</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">escondida agora nos bolos e pratos</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">falida pensando na cliente</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">na impecável educação de minha mãe</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">lembro-me da risada baixa</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">minha conta no vermelho </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">ela acertou</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">sou como os besouros no concreto</span></span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">erguendo vinte vezes meu peso</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">um dedo humano poderia petelecar</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">minha carga para longe </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">mas um humano não consegue erguer</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">metade de seu próprio peso</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">sou como os besouros de barriga </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">para cima esperneando</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">mudo o mundo muito pouco ninguém me </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">vê ou ouve</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">mas aqui estou me contorcendo</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span>arrumo ao menos memória alinhada</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">acúmulos dos meses próximos</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">quero expressar-me até o fim</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">é impossível dizer o que tenho</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">então apenas sou</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">insatisfeita e contemplada</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">dissonante do que persigo</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">muda como as sementes na chuva</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">pronta para quase falar</span>Letícia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/08417226535943169376noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2154314183767313403.post-71895664717204971692018-09-23T18:25:00.000-07:002018-09-23T18:31:24.681-07:00parque portugal<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">o menino que eu namorava no ensino médio é hoje amigo aos finais de semana quando saimos correndo em volta do parque com lagoa na cidade. na volta ele classifica minha troca de marcha quinta para quarta como imperceptível e digo a ele, o dia está pago. depois constatamos juntos a baixa umidade do ar. </span><br />
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">quando menores achávamos nada disso nos assuntos, fico perguntando sozinha do que conversávamos. não era tanto sobre comida nem empregos difíceis, parecia mais sobre coisa pior, vidas não nossas e uma vantagem no outro que não tinha par conosco. era euforia e conflito e risada e leveza e hoje é tudo isso ainda mas menos. </span><br />
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">somos bolsas de graça dilatante, cada vez mais fracas por esticar e crescer.</span><br />
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">digo a ele que não aguento correr doente assim, ele daria duas vezes a volta mais longa. tusso, espirro, coço os olhos minúsculos chorando sem tristeza e ele aguenta o todo, minha lerdeza e quando falo muito e quando falo negatividades que todo mundo evita porque cada um já tem sua montanha de dores para curar. digo a ele e ele encontra um lado bom. não aguento correr seguida e penso em subida que pode ser melhor se escalarmos a montanha em lugar de tentar levá-la nas costas.</span><br />
<br />
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">meus ombros se enrugam para cima e meus joelhos entortam para dentro. ele corre como se estivesse comendo claras em neve assadas com açúcar. fala baixo, ele fala pouco e suave. </span><br />
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">e foge de dentro de meu carro quando o passeio termina, deixa-me drogada com fomes. faz a semana dele, enquanto a minha some. no próximo encontro a gripe está sarada e nossos corpos irão esticar e crescer, formigar e doer, esquentar e correr.</span>Letícia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/08417226535943169376noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2154314183767313403.post-88652774517827847592018-08-05T21:17:00.002-07:002018-08-06T20:10:56.899-07:00ariana grande gostosa<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">ontem meu namorado que não é meu namorado chamou a ariana grande de gostosa. durante a reunião de amigos ele parou no meio, gost–. a raiva que sinto quando penso nisso é a mesma raiva que eu gostaria de ter ao acordar amanhã, segunda-feira, uma raiva que me formigasse cama afora para trabalhar e me concentrar tanto no importante que a ariana grande sumiria, minúscula. quando penso nisso é uma raiva danada. é uma raiva danada porque parou no meio, ficou palavra detida, estourou igual bexiga enchida errada: infla rápido e explode em silêncio imbecil. imagino ele dizendo um gostosa por inteiro, boca cheia e orgulhosa, gostosa. com os amigos, bebendo cerveja, gostosa. lançou a música e ela nem é tudo isso mas esse single ficou ótimo, gostosa. </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">fiquei ali sem saber o que clamar. alguém riu, ele mesmo riu, como se não fosse desrespeito, comigo ou com a ariana grande. </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">é difícil inspirar um homem a entender que as questões vão além dele, do pau dele, que isso está em todo lugar e há muito a perder nessa conduta. é difícil expirar. tanto é assim que fiquei preguiçosa, ou omissa – o resultado é o mesmo –, sorriso sumiu entrou no lugar um vazio triste. meu namorado que não é meu namorado perguntou se eu estava bem, que sensível, ao que lhe respondi com a cara mais amarga que a mulher consegue amenizar, tudo bem. gostosa. pediu-me que colocasse o single para tocar, neguei insistência após asfixiante insistência. </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">sufocado, perdeu-se esse momento em meio a outros menos ou mais relevantes, quando voltei da cozinha munida de bolinhos de carne estilo oriental espetados em pauzinhos de madeira. o meu protagonista realçou, quantos palitinhos. respondi sem direcionar o olhar, é um para cada merda que um macho fala. alguém riu. não sei se ele riu. a carne estava gostosa.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">depois só fiquei ali, longe. </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">sinto não saber me colocar, não saber meu lugar. bebi e fumei meus problemas. não sei se quero um namorado que não me namore se for assim. sinceramente pouco me sinto no direito de amá-lo, já que pobremente amo a mim mesma. </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">abandonei a reunião e sumi para dormir, sem boas noites educados. apenas desapareci. </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">aceito ser a ciumenta. aceito ser a pelo em ovo. aceito ser a galinha. aceito ser a triste, a louca, a ingrata, a insegura. aceito o que tiver de me classificar para contar de mim quando isso acabar. aqui está, eu sou real. e eu sou imensa. </span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi25qt6ksiuyvhxrOms32Uz1njbQozVBK5zygNGcWc9LVB5MToPN4LWgDIMIL_pls0SCylgzObLwicCdc1i6yxjUHtH4BlSgsyAtMiqsznK92kKNSJ9OWMvg5jkRc_fXJUOwrFYgjsKm90/s1600/3326e24b-39d0-4b46-96dd-483885371c72.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1040" data-original-width="640" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi25qt6ksiuyvhxrOms32Uz1njbQozVBK5zygNGcWc9LVB5MToPN4LWgDIMIL_pls0SCylgzObLwicCdc1i6yxjUHtH4BlSgsyAtMiqsznK92kKNSJ9OWMvg5jkRc_fXJUOwrFYgjsKm90/s640/3326e24b-39d0-4b46-96dd-483885371c72.jpg" width="392" /></a></div>
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span>Letícia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/08417226535943169376noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2154314183767313403.post-83160460145268666192018-05-21T22:01:00.001-07:002018-05-21T22:01:10.156-07:00lado.<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">sonho com um amor </span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">que me tome por amigo</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">quando eu chore me cubra</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">com braços e com lábios </span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">que não digam meu nome inteiro</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">sonho com um amigo</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">que me fale o que esqueci</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">e solte-me quando souber</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">que nos tornamos nocivos</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">ou menos que estranhos</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">sonho com um desconhecido</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">que oferte o familiar</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">comida casa e suor</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">que me veja maior que me penso</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">depois me faça enxergar</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">sonho com a gratidão</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">de lembrar do tempo</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">quando queria o que tenho</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">sem o próximo segundo</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">sobrar feliz</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<br />Letícia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/08417226535943169376noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2154314183767313403.post-87439463935479171792018-05-12T13:24:00.001-07:002018-05-12T13:24:27.741-07:00autochthonous<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">he's been planted on the sea above tiny many stones over melted fire </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">I saw him moving continents apart once </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">unaware but certain</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">he's been held a god it might be a good thing </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">to keep him here</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">little pieces of thinner dust such thick transparent layer of air<br />inhaled by breathing parts of him crumbled</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">turned into strange water<br />he's in my lungs I think I'm </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">wetlands now<br />unaware but certain I'd like </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">to keep him here</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">will it absorb </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">or will it dissolve</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">I've been planted on the dry conceive of making it clean</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">if he asks me to seed I will take the breed</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">spread it open to him over riverbeds </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">my current streams have ever been cursed</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">my current drops into the ocean</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">we are flume with mud and yearn</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">we are set to burn</span>Letícia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/08417226535943169376noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2154314183767313403.post-44832640303584597752018-04-17T17:37:00.003-07:002018-04-17T17:37:27.761-07:00com labor, lido cru<span style="color: #666666; font-family: Verdana, sans-serif;"> uma letra c que minha coluna vertebral escreve quando me sento para. escrever com o queixo colado no topo do encosto de costas da cadeira como se fosse uma letra l deitada ou. como se eu estivesse fazendo aquele exame antes de passar com o oftalmologista, a recepcionista me diz para focar no pontinho vermelho ao fim de uma pista de decolagem de avião, um desenho para elucidar o exame chato e. poderia ser que as palavras saíssem melhor se não fossem assim sempre interrompidas.</span><br />
<span style="color: #666666; font-family: Verdana, sans-serif;"> trabalho do momento que acordo até este em que sento errado, a bacia pendendo do lado direito ao piso de madeira. se me molhar em banho agora, vou querer parar, e há muito a ser feito. cortar uma peça de bacon em pedacicos para os clientes do coquetel na joalheria morrerem mais cedo com maior coordenação motora (li na notícia que embutidos são cancerígenos depois li num livro que colesterol é amigo da função cerebral), colocar depois tirar minhas roupas coloridas da máquina de lavar na função delicada, arrumar a cozinha pela quinta vez. nunca passei tanto tempo na cozinha e é uma obsessiva construtiva compulsão. dou conta até de passar mal de fome ali porque não consigo fazer uma pausa de fazer uma comida para comer.</span><br />
<span style="color: #666666; font-family: Verdana, sans-serif;"> o menino por quem me apaixonei está de saída. meu coração se aperta e sai chorume.</span><br />
<span style="color: #666666; font-family: Verdana, sans-serif;"> meu segundo celular em um mês pifou e basicamente toda a minha minúscula vida profissional se organizava nele. perdendo a cabeça por um eletrônico eu percebo. como. somos de papel. abro meus livros de receita e como que numa degustação em maiúscula leio minhas letras c e l escritas com um padrão pesado em balança. ENTREMET ICKFD e depois PÃO DE LÓ ENRIQUECIDO CAMILA DUTRA. tudo o que eu tenho eu peguei de alguém e eu só posso ser uma segunda versão de uma segunda versão. esqueço que açúcar faz tão mal assim e como quase sozinha uma panela. depressão.</span><br />
<span style="color: #666666; font-family: Verdana, sans-serif;"> focar no pontinho vermelho em cima do cupcake que é uma cereja falsa de chuchu. pesar os centilitros franceses cl cl cl cl. postura, segura a faca daquele jeito para evitar a tendinite, não pensa no menino indo embora. chorume. meu cachorro ao lado me observa como quem só quisesse estar mais perto. e estou indo para lá.</span><br />
<span style="color: #666666; font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<br />Letícia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/08417226535943169376noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2154314183767313403.post-7097092631413844452018-01-02T16:59:00.000-08:002018-04-17T17:58:22.464-07:00trancada do lado de dentro quando saio de casa<div style="text-align: left;">
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">gente que vê briga em todo lugar</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">sou essa gente</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">levo a briga dentro de mim e tudo está brigando</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">depois tudo está pedindo desculpa</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">depois vem o sono</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">quando esqueço o que aprendi</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">acordo observando pela primeira vez e vem </span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">a briga</span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">você já ouviu uma frase assim</span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"> o que seria do azul sem o amarelo</span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">uma coisa só ganha definição </span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"> por seu oposto</span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">sei que faz calor pois já fez frio</span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">sei que morrerei porque nasci e assim em diante não é necessário tornar este estorvo a linha mais longa </span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"> está tudo bem</span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">o equilíbrio está aqui</span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"> em algum lugar</span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">por baixo de cinquenta e dois anos de mim</span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">quando despertarei velha e</span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">nossa </span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">nem precisava de tudo isso</span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">sento para meditar</span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"> as costas doem, deito para meditar</span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">sinto vergonha da cena que sou</span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"> no pontapé dos vinte frequentando quiropraxista</span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">deveria estar meditando mas estou pensando</span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"> e se alguém me visse assim</span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">mas não há absolutamente </span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"> (ninguém no meu quarto)</span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"> ironicamente qualquer um que leia isso estará agora em meu quarto </span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"> vendo-me em posição duramente pior do que deitada</span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"> chocando as inflamações num ovo de nervos </span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"> que o quiropraxista irá quebrar</span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">e pela cabeça dele nunca passará que medito</span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">porque sou uma mulher sou uma menina uma garota sei lá</span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">eu sou esse troço comedido impulsivo</span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">dolorido</span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">reclamo que reclamo demais</span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">peguei birra de negatividade</span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">assim engrosso meu inimigo com ares de indiferença evoluída</span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"> falo mal de quem fala mal </span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">é tão revolucionário quanto uma cadeira ao pé de uma mesa</span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">quando vejo as palavras já saíram quando vejo </span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">não disse nada</span><span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif; text-align: right;"> </span><br />
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif; text-align: right;"> </span></div>
<div style="text-align: start;">
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif; text-align: right;">arrumo os dias como se fossem um cômodo</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">aqui, nas segundas, ficam o mercado, o combustível e uma porção de coisas que não conto </span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"> não por serem pessoais mas por serem completamente desinteressantes</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">como um curso de bolos espatulados que ando fazendo ou</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"> cortar o fio comprido esquecido em minha cabeça pelo cabeleireiro (caríssimo)</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"> nas terças, academia, ler até a página duzentos, assim em diante</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">além das tarefas cotidianas que todo dia se devem ter por feitas como</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"> banho refeição passeio do cão rir ajudar beber água </span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"> fazer uma oração </span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">mas os dias estão fartos de mim</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">(rotininha)</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">saem voando pela janela porque preferem o sol das 19:48</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">deixam-me com uma luz de mentira que brilha errado</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">então visto-me em roupa de refletir luz ainda pior e</span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"> vou</span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"> trancada do lado de dentro quando saio de casa</span></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">acho que preciso de mais cinquenta</span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"> (e dois)</span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"> (anos)</span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">de combate comigo para perceber que</span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"> as coisas às quais dou importância </span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"> não importam mais do que aquelas que ignoro</span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"> essa metade de metade de vida</span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"> é o lado bom de uma coisa ruim</span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">ou o lado ruim de uma coisa boa como eu disse tanto faz</span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"> e vai escapar antes que eu possa segurar</span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"> vai sair antes que eu raciocine o rastro</span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"> antes que eu possa vencer </span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">vai passar</span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div>
<br /></div>
Letícia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/08417226535943169376noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2154314183767313403.post-45028983412838431042017-12-15T12:57:00.000-08:002017-12-16T09:26:19.329-08:00a dieta do pó<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"> que a empregada veio tem quase quinze dias, disse a mãe. você fica nesse apartamento e bem podia catar uma vassoura, o chão de casa parece o chão de um museu triste. a filha ouvia, sentada nos tacos de madeira, atirando um gato de pelúcia em miniatura para o cão tosado rente. o calor, motivo do tosado cão caro, desses que viram tapete quando esparramam para deitar, o calor engodou o cão caro de vira-lata. o calor hoje tinha misericórdia, roupa arejada bastou e queixa não serviria. </span><br />
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"> a filha lembrou de um professor, dono de exemplar autoconfiança e estrangeiro de são paulo, ele dizia quase toda aula, com ares de ineditismo, que em campinas para cada pessoa existe um sol. se não toda aula ele dizia, feito surpresa, em campinas cada um tem um sol para si. cá estou nesse chão e muito limpa, conversou para dentro em silêncio a filha. o cão também não nota esse dito imenso pó, tampouco se dedica ao que não lhe presta à fome. ainda para dentro pensou que no apartamento também estava a mãe, também estava a vassoura, e aquela não seria empregada se vem duas vezes em um mês, se tanto, e só quando acionada. o que não via era a mãe levantar-se, engolir a recomendação a praticá-la. se eu fosse uma bruxa inventora, concluiu, faria uma vassoura de sumir com reclamações janela afora.</span><br />
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"> estava a filha mesmo muito limpa, cheirando a desodorantes de rasgar o céu. anos antes aprendera na escola siglas interessantes de partículas que desvirginavam o céu daqui para um céu mais distante, siglas que faziam o sol entrar com mais violência e sair com mais esforço. quero estar em são paulo, gemeu a filha de novo para dentro de si. era dos hábitos insuportáveis esse que tinha de pensar muda e sem descanso. quero estar em são paulo onde se pode dividir o sol com alguém. e precisamos ver essa bagunça fazendo aniversário no quarto do meio, rezingou a mãe.</span><br />
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"> a filha subiu dos tacos da sala à cama do quarto. levantou-se por si mas o que sentia era uma inconsciente expulsão do convívio anterior. o cão com fome de tudo menos pó a seguiu e sentou-se amuado ao pé do móvel. pelo menos não lhe pedem para varrer, discursou motivacionalmente a filha, que do cão era mãe. após alguns segundos de confuso e engajado contato visual, ele soltou a cabeça às patas a passou a lambê-las num obcecado ritual que a filha não conseguia reprimir, pois faltava-lhe o que oferecer no lugar daquela séria tarefa. pulou da cama e posou de pé, de costas ao espelho com o pescoço torcido, espremendo as nádegas. contava os graus de suas celulites com seus furinhos cruciantes, essas porras não acabam nunca. o cão a olhou. essas porras não se dissolvem, exercito-me e cuspo o açúcar e não se dissolvem. </span><br />
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"> era arrastando-se pelo tempo que a filha montava sua vida. podia enxergar o mundo de um jeito realmente seu, em dados dias conseguia até não afetar-se com palavras, rejeições e redes sociais. andava por terreiros espíritas e já quase não ligava quando a mãe lhe recomendava culto menos horroroso. sabia mesmo que dentro de si era capaz de vinte vezes mais, conforme ouvira de um mark divine, que também falava que as três bases de uma vida sem preguiça eram treino, sono e alimentação. alimentava-se bem, dormia as horas que o médico falara e treinava com afinco. por que então esse insistente incompleto. de onde vem essa oscilante vontade de ora insistir, ora desistir. vou botar-me de empregada macumbeira, com minha vassoura de limpar lamúria, vou erguer-me essa bruxa inventora de minha casa, falou ao cão que em sua mudez decerto pensava suas próprias insatisfações.</span><br />
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"> a filha pegou na vassoura porque ser como a mãe lhe dava preguiça.</span><br />
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"> com a janela aberta a empurrar para dentro da sala um pó novo, a filha limpou os tacos de madeira. a mãe enfeitava-se para um trabalho externo, mais nobre, no quarto fechado ao lado. o sol abriu-se nas panturrilhas torneadas da filha, rasgando em sombra o contorno muscular que sabia trabalhar e sustentar-se. o sol estava ali e era só seu. um sol inteiro, só para ela. a filha, fortuitamente magnânima, varria o pó antigo. num assombro sentiu-se grata, e disse em seu pensamento silencioso, endereçado à mãe, sou-lhe muito grata por trabalhar e dar-me casa. sou-lhe muito grata por reclamar e dar-me trabalho. esparramou-se depois feito tapete com o cão engodado pelo chão limpo. ei, trocinho, a filha brincou, um dia não vai ter mais pó para varrer, porque o sol vai engolir a terra. um dia, nem dia haverá. e atravessou ali a mãe, dizendo tchau, trancando-se do lado de lá da porta. apenas depois de determinar, o quarto do meio deste final de semana não passa.</span><br />
<br />Letícia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/08417226535943169376noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2154314183767313403.post-24642679557209680952017-10-30T21:20:00.000-07:002017-10-30T21:35:13.284-07:00Se eu morrer inesperadamente<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><span style="font-size: x-large;"><b> A</b></span><span style="color: #444444;"> realidade quebra e atropela quando o ideal atrapalha. </span></span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"> Essa história real dirige-me por dentro dos vasos de circular sangue como carros numa avenida larga quando já é tarde e o vermelho do sinal não nos para, apenas guia, Vem de encontro que sou o que és. </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"> Escrevo de pessoa eu mesma pois o contrário sai como mentira, coisa que de fato faria-me dormir melhor, não fosse o péssimo jeito de dormir que já tenho. Acordada de um transe de encaminhar espíritos desencarnados à passagem, voltou minha amiga ao banco do passageiro ouvindo silêncio e minha voz. Tomamos a curva necessária do caminho e nossos personagens em pé, rua curta e escura, o casal num forçado nó sobre o asfalto e apelos, a mulher nos agarrava pelo vidro entreaberto de meu lado oposto, Deixa entrar com vocês, ele vai me matar.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"> Confusão e medo e pés confusos que não faziam arrancar nem estacionavam. Ligo os piscantes da traseira e ouço do homem, ele só tem 22, Sobe nessa moto agora. Não posso abrigá-la em meu carro e não posso deixá-la ali. Faço-a então andar colada ao carro até uma esquina movimentada, esquina com bar, o rapaz atrás de nós, o homem sempre sombra de nós. Atesto num beliscão mental que há sempre um homem que nos sobra. </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"> Some aquele fim de menino bar adentro fazer misteriosa e inadiável coisa, ao que resta sua mulher, manifestadamente e por posse sua mulher, resta ali num concreto meio-fio. Fora do bar e fora de si, se estar aquém é conceito e sensação de absoluto estado, fora e ali ela perdura, parada, respirando, assustada como eu e a amiga. Nesse momento fica brutal e imperceptível a diferença entre nós três, viramos mulher e isso é tudo.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"> Vejo nascer por dentro da cabeça dela, clemente e não treinada em escola, a tese de que prisão é condição tão eterna quanto inescapável e que esconde-se mesmo dentro de nós. Vejo num aborto espontâneo as bases de seu precário subconsciente tremerem e sangrarem, invisíveis, olhos fora. Uma sociedade em volta abençoada em ignorância passa por ali apressada, envolta numa demência que fisga-me de inveja. Ninguém desacelera por nós. Ninguém nos espera ou nota, na rua movimentada com bar ninguém nos salva. </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"> Mas um carro encostou, branco e habitado e encostou, num inverossímil milagre engoliu a mulher e partiu, deixando-nos duas, rachadas em alívio e horror, como que bifurcadas. </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"> Ponho de volta a roda a girar, meio de rua não é estacionamento aos desgraçados, respiro em marcha à ré e primeira marcha, solto na descida o carro em segunda. Que nos vem acompanhando o rapaz em sua moto. É impossível convencê-lo de que sua mercadoria não está aqui, encolhida nos bancos, dobrada no porta-malas, borrada no insulfilm. Fecha-me, passa-me, cotuca as janelas, freio e freia ele, piso fundo e vem atrás, jogo-me de lado, ele não tomba. A amiga, a esta altura, a pobre amiga já derretida e transformada em anjo esperto, dita-me o que fazer, Segue buzinando que na avenida a delegacia não se fecha. </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"> É o que concedemos num orquestrado alarde, daí a mesclar-se no trânsito à frente o motoqueiro que some bairro seguinte. Pode ser que nos aguarde em volta e pode ser que volte ali. Pode ser qualquer destino possível naquele instante de frenesi. O polícia calmo como o descaso em pessoa diz que a escolta até nosso apartamento, dali a três quadras ou 50 segundos, conforme preferência, é irrealizável. </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"> Seguimos tão a sós como antes da primeira curva de apresentação, apesar de mais amedrontadas, porém, com menos medo do que antes, mesmo com toda a capacidade respiratória de quem contadas vezes semanais corre numa esteira de borracha, tremendo dentro do veículo tremendo como a sustentar ou soltar o peso de uma debatível ajuda. Fico sem saber se ajudamos. Fico sem saber como puxar com a mão o freio.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"> Verdade é que por tempo indefinido estarei a dirigir olhando placas de moto, voltando mais cedo à casa, desconfiando se aquela mulher, que dizia Ele não é ruim, é só ciumento, se ela ouviu o que eu lhe disse, Some deste homem, isso precisa acabar. </span><br />
<br />Letícia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/08417226535943169376noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2154314183767313403.post-44961972933586755092017-10-18T20:13:00.000-07:002017-10-30T21:39:27.137-07:0023<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><b><span style="font-size: x-large;"> Á</span></b><span style="color: #444444;">cido outubro, intestino grosso de 2017, jogue-me ao primeiro de novembro com 23, desintegrada em blocos de alimento assimiláveis, pronta a adubar a terra. Corrosivo outubro, sulco fantástico onde prendem-se restos de fibra, musculatura doutro ser apodrecendo nas nesgas de mim, molde-me massa de escorregar cerâmica, pronta a poluir mais águas. Sagrado outubro, cobre-me de anjinhos e santinhos presos no planeta por serem bons conosco, sufoca-me de rosários e abre-me em pétalas-não-eu no primeiro de novembro.</span><br /><span style="color: #444444;"> Não quero fazer anos.</span></span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"> Mas os anos fazem-se de qualquer forma, amontoam-se acima e blocudos, pensam ter resistência. Somos madeira, os anos retrucam, São sim peças do bambo jogo, replico, São sim réplicas de um mesmo agora, pretendem raízes mas qualquer movimento brusco lhes deita à mesa. São como jenga, a brincadeira de empilhar madeiricas, reempilhar madeiricas, derrubar madeiricas, empilhar madeiricas. </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"> Ofendo os anos numa legítima vontade e cedo minha vez, Que o amigo brinque por mim, estou ocupada a beber, a fumar, estou ocupada a virar um adulto, não tenho tempo para crescer agora. Os bloquinhos sentem o amargo de meus intentos, mas dão-se por surdos como são e voltam-se ao trabalho de sobrepôr. Um dia, o bloquinho que fala, Um dia voltaremos todos à terra e formaremos com ela uma criança de comer, uma criança feliz que come. Um dia, perguntou um bloquinho mudo que ninguém ouviu e seguiu-se então o silêncio. </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"> Seguiu-se o longo silêncio de uma noite que durou por todo o mês de outubro e pude eu ouvir cada partícula do nada rasgar minhas células de amar. Aperta aqui, queima ali, dissolve essas mais, quebra, reordena, empacota, expele, guarda algumas para saírem no espirro de aniversário. O restante despache-se pelo reto e saia ao nascer do dia, saia por onde abrir luz e segue a luz.<br /> Sobrei imediata e infinitamente depois, evacuada. E faminta também, segui gástrica. Sobrei velha de máscara colada na cara, sobrei barata e restos de comida, sobre a mesa embaralhando os blocos de madeirica. Sobrei ali e bem assim, pronta para adubar a terra, gelada no halloween pelas crianças que vi passando travessas dentro de meu estômago a coçar-me. Gostosuras ou gostosuras, travessuras ou duodenos, capeta ou boazinha, balinhas ou bile, falavam misturadas as crianças. Calem-se ou as vomito, gritei de lá de minha morte, vou máto-nas, gritei depois mas menos forte, pensando-me uma morta muito eloquente. </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"> Outubro então espirrou-me à rodada seguinte, no topo dos blocos de jenga. Os amigos puxaram-me à mesa e assoprei um muito suntuoso bolo cutucado em varetas de fazer queimação. Esse me vai lotar de amor, imaginei com a boca assoprando como ânus. De fato, brotou-me apenas mais um furo de celulite nas coxas. Feliz aniversário, letícia, disseram Todos Os Santos, comemorativamente dividindo comigo sua data. Urraram num uníssono e macio tom, urraram doce mas em suas cabeças imateriais não puderam entender como fiz parte no grupo, Só pode haver um ressuscitado, entreouvi de um santo descanonizado com a bochecha suja de chocolate.<br /> Contornado o com quem será num discurso apressado, encerrei dali mesmo, de dentro de mim, a festividade, Esta primeira fatia dou ao bloco mudo de madeirica, insuportavelmente como eu, esmagado na base de sua própria edificação.</span><br />
<br />Letícia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/08417226535943169376noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2154314183767313403.post-51535558968554451612017-08-23T21:16:00.002-07:002018-01-02T17:07:17.563-08:00Glicínia<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">É assim que te vejo</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">Você indo embora</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">Com o futuro nos ombros </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">A criança nas costas</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">Pra longe e devagar<br />Floresta adentro</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">Você é a semente e você é o fruto</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">As plantas vão crescendo </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">Em câmera lenta</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">O caminho antigo repisado</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">É o mesmo lugar mas menos cuidado</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">É menos verde </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">Tem menos gente<br />Eu te observo absorvendo o pouco ar</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">E rego pra tentar te acompanhar</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">Seus sapatinhos grandes<br />Roupa escura</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">Um corpo fino</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">Escapa em meio aos outros troncos</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">Um sol tardio e recolhido</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">Será que ele vai tentar</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">Me tirar da terra<br /><br />E rezo pra que venha me podar</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">Floresço pra que venha me cheirar</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">Transpiro pra que venha me beber</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">Entorto pra que venha segurar</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">Dilato pra que venha me olhar</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">Orvalho pra que venha me aquecer</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">Bem me quer mal quer-me bem que mal faria </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"> me escolher</span>Letícia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/08417226535943169376noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2154314183767313403.post-65433594757120513632017-05-10T10:46:00.003-07:002017-05-11T18:30:43.946-07:00Texto medíocre de blog ordinário <span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"> </span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: x-large;"><b>U</b></span><span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">ma puberdade aos 22 chega gritando manso e jura sem convicção nunca me ensurdecer. Não lancei livro nem álbum nem menu, nem uma carreira eu comecei a construir e peguei DP por falta na minha disciplina favorita. Invento que quero tirar fotos e fazer cirurgia plástica. Invento que vou num templo budista respirar de olho fechado e ver alguma luz salvadora que supostamente já está dentro de mim. Invento que vou mudar meu quarto, tirar essa Hayley Williams da parede e procurar meu próprio jeito de cantar. Invento tirar as roupas da gaveta e sintetizar tudo numa arara, vi num documentário que pessoas que possuem 33 peças de vestuário são mais felizes.</span><br />
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"> Depois de uma cadeia de relacionamentos aprisionantes, dirijo mais pensando que dirigindo, penso mais do que respiro e penso num silêncio absoluto. Concluo que não tem jeito de ser o artista que se debate em mim quando tenho tão pouco de interessante para falar. </span><br />
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"> Naquele mesmo documentário uma mulher muito feia e inteligente explicou que por mais que se diga que andamos humanos muito materialistas, de fato nunca o fomos tão escassamente. Minhas blusas baratas mudam para papelão na primeira lavagem e a cada bimestre sou forçada a comprar um novo cabo auxiliar para ouvir música sem chiado. Não sei de memória a textura de uma rocha na beira da praia, nem dos dedos da minha avó, porque tenho medo de tocá-la.</span><br />
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"> Não sei se o que me assusta é o velho ou o humano.</span><br />
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"> Ao final dos meus seis meses de antidepressivo, atiraram-me bem no centro de 2017, completamente lúcida e agora com força de trabalho, para confirmar aos meus pais que sou essa inútil com sanidade e uma ótima moral. Leio sem parar, observo os homens todos, treino e vasculho meus talentos e tento não cair na síndrome do Instagram organizado. Volta e meia acordo com um pedaço de plástico na boca e só desengasgo deletando uma foto que, apesar de minha, não mais me diz respeito.</span><br />
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"> Assisto no YouTube um comercial impulável de creme depilatório, filmado por homens dizendo que a mulher pode ter a aparência que escolher. Que o bonito é ser do jeito que ela escolher. A mulher que se depila é loira, magra, feliz e já está depilada. Quando o comercial acaba assisto a um vídeo Minha Experiência Com Silicone e confirmo: é isso que quero fazer.</span><br />
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"> Há mais incoerências sob os meus pensamentos que apartamentos no centro da cidade.</span><br />
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"> E não muito distante dorme um corpo no qual eu também inventei amor. É um amor difícil, porque não falamos a respeito. É um amor difícil porque estamos igualmente jogados na dúvida e na imanência de algo melhor, fingimos desaperceber que somos todos o mesmo fodido, procurando liberdade num maço mentolado e tombando a ponte até virar muro.</span><br />
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"> E com tudo isso borbulhando, transbordando e espirrando quente na minha cara, ainda cozinho para descascar-me num fruto que me sacie. Ainda canto para balancear minha pobre oratória. E ainda escrevo porque se não o fizer é certo que morro ou mato alguém.
</span>Letícia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/08417226535943169376noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2154314183767313403.post-54777934520930731172017-04-17T09:02:00.001-07:002017-04-17T09:02:38.065-07:00Milagre surrado<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><span style="background-color: white; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">Idade só é calo e</span><br style="background-color: white; box-sizing: border-box; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;" /><span style="background-color: white; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">conformidade e,</span><br style="background-color: white; box-sizing: border-box; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;" /><span style="background-color: white; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">conforme for, eu</span><br style="background-color: white; box-sizing: border-box; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;" /><span style="background-color: white; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">vou do teu lado mas,</span><br style="background-color: white; box-sizing: border-box; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;" /><span style="background-color: white; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">se melhor for,</span><br style="background-color: white; box-sizing: border-box; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;" /><span style="background-color: white; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">faço-me afastado.</span><br style="background-color: white; box-sizing: border-box; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;" /><span style="background-color: white; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">Formo esse fim tal</span><br style="background-color: white; box-sizing: border-box; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;" /><span style="background-color: white; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">qual fosse um quadro,</span><br style="background-color: white; box-sizing: border-box; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;" /><span style="background-color: white; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">pinto em carmim</span><br style="background-color: white; box-sizing: border-box; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;" /><span style="background-color: white; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">um sangue abstrato.</span><br style="background-color: white; box-sizing: border-box; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;" /><span style="background-color: white; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">Aprende minha dor,</span><br style="background-color: white; box-sizing: border-box; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;" /><span style="background-color: white; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">aprendo teus fatos.</span><br style="background-color: white; box-sizing: border-box; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;" /><span style="background-color: white; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">Pendura-te em mim e</span><br style="background-color: white; box-sizing: border-box; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;" /><span style="background-color: white; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">te prego no quarto.</span><br style="background-color: white; box-sizing: border-box; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;" /><span style="background-color: white; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">Para ali deixar-te,</span><br style="background-color: white; box-sizing: border-box; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;" /><span style="background-color: white; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">um crucificado</span><br style="background-color: white; box-sizing: border-box; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;" /><span style="background-color: white; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">atado a seus modos,</span><br style="background-color: white; box-sizing: border-box; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;" /><span style="background-color: white; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">maduro e cansado.</span><br style="background-color: white; box-sizing: border-box; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;" /><span style="background-color: white; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">E como de praxe,</span><br style="background-color: white; box-sizing: border-box; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;" /><span style="background-color: white; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">de pranto me lavo,</span><br style="background-color: white; box-sizing: border-box; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;" /><span style="background-color: white; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">de tanto que planto</span><br style="background-color: white; box-sizing: border-box; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;" /><span style="background-color: white; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">sou fruto pisado.</span><br style="background-color: white; box-sizing: border-box; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;" /><span style="background-color: white; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">Por fim forjo peça</span><br style="background-color: white; box-sizing: border-box; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;" /><span style="background-color: white; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">de todo cuidado,</span><br style="background-color: white; box-sizing: border-box; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;" /><span style="background-color: white; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">somos breve verso</span><br style="background-color: white; box-sizing: border-box; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;" /><span style="background-color: white; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">fotografado. E</span><br style="background-color: white; box-sizing: border-box; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;" /><span style="background-color: white; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">é de obra e de arte este</span><br style="background-color: white; box-sizing: border-box; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;" /><span style="background-color: white; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">porta-retrato.</span></span>Letícia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/08417226535943169376noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2154314183767313403.post-668427966315387542017-04-17T08:53:00.000-07:002017-04-17T23:52:12.547-07:00CarneOficina<span style="background-color: white; color: #444444; font-family: "courier new" , "courier" , monospace; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">Todo homem eu faço de ventre</span><br />
<span style="background-color: white; color: #444444; font-family: "courier new" , "courier" , monospace; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">Para ser lavada no vigésimo oitavo dia
Infecunda</span><br />
<span style="background-color: white; color: #444444; font-family: "courier new" , "courier" , monospace; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">Insegura</span><br />
<span style="background-color: white; color: #444444; font-family: "courier new" , "courier" , monospace; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">Vagabunda</span><br />
<span style="background-color: white; color: #444444; font-family: "courier new" , "courier" , monospace; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">A secura em minha boca enquanto beijo é para irrigar outro lábio</span><br />
<span style="background-color: white; color: #444444; font-family: "courier new" , "courier" , monospace; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">Um menos eloquente</span><br />
<span style="background-color: white; color: #444444; font-family: "courier new" , "courier" , monospace; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">Insolente</span><br />
<span style="background-color: white; color: #444444; font-family: "courier new" , "courier" , monospace; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">Subjacente</span><br />
<span style="background-color: white; color: #444444; font-family: "courier new" , "courier" , monospace; font-size: 14px; white-space: pre-wrap;">Todo homem eu rasgo no dente</span>Letícia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/08417226535943169376noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2154314183767313403.post-84292165356761867752017-03-14T11:14:00.000-07:002017-03-14T11:20:30.980-07:00Entrevista com o Universo<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"> <span style="font-size: x-large;"><b>N</b></span><span style="color: #444444;">um dia de semana, enquanto o sol brasileiro queimava minhas panturrilhas não depiladas e mal dispostas no encosto do sofá, acometeu-me, tal qual uma visão sagrada, o Universo. Ele mesmo, sem forma nem voz, tão ameno quanto insuportável. Sentou-se ao meu lado, agora não lembro se também no sofá ou na dobra interna de minha orelha, e ordenou-me fazer-lhe oito perguntas. Pediu que eu fosse pertinente e honrasse sua inusitada boa vontade, ao que confeccionei essas imbecis indagações, um pouco minhas e espero que de mais alguém, servindo o milagre para algo. Fique a par quem desejar dessa inverossímil tarde de terça-feira e sua incasualidade.</span></span><br />
<span style="color: #444444;"><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">P: A vida é uma coisa boa?</span></span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">R: A vida pode ser uma coisa boa. Bom e ruim são construções humanas e delas abstenho-me visto meu caráter invariavelmente neutro. Não é de importância para mim se um namoro terminou, se uma nação foi extinta ou se uma vegetal rompeu a barreira do solo. Mas há, sim, um enorme número de coisas boas sobre a vida, quando se é uma pessoa, e enxergar esse fato não é habilidade de tudo o que respira, tampouco uma obrigação.</span><br />
<span style="color: #444444;"><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">P: Qual premissa faz com que você mantenha a Terra um planeta que existe?</span></span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">R: A Terra é um planeta muito singular e defeituoso, seria uma pena vê-lo acabar a qualquer momento... (risos). A verdade é que o acaso estendeu-se por tempo o suficiente e o que agora temos é uma configuração minimamente complexa e caótica. As hierarquias e prioridades moldaram-se de tal forma, que a espécie humana julga-se acima das demais em inteligência e natureza. Drenando os recursos comunitários para poucas mãos e alienando uns aos outros através da ignorância, é depositada cada vez mais importância em detalhes desimportantes. A tecnologia faz exponencialmente mais por eles e, na contramão, o contato com o real diminui. Há também os que tentam abster-se disso tudo numa falsa moral e negam o que há de mais selvagem em si. É realmente insustentável. Mas, em suma, não há premissa. Se a Terra ainda existe é um acaso.</span><br />
<span style="color: #444444;"><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">P: É possível reverter a miséria humana?</span></span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">R: É possível passar dez minutos debaixo d'água? Eu diria que sim. Mas qualquer um sairia com vida? Seria uma experiência frutífera? A miséria humana, por penosa que seja, permeia a personalidade de todos vocês. O erro. A própria evolução vem do erro, confusões genéticas criam variação e o mais forte sobrevive. O erro fortifica e é o caminho mais seguro. É possível, porém, encaminhar essa miséria para onde mais beneficie os sistemas.</span><br />
<span style="color: #444444;"><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">P: Conceitos como amor, arte, saudade e perversão podem ser encontrados em outro local que não a Terra?</span></span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">R: Desculpe-me. Não estou apto a responder essa pergunta. Ou talvez você não esteja apto a lidar com a resposta.</span><br />
<span style="color: #444444;"><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">P: O que é arte?</span></span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">R: Falar sobre arte é como escrever sobre uma tempestade. Há muito que os termos não conseguem conter. A própria sensação, intrínseca à arte, é mais do que palavra. Dentre outras muitas coisas, arte é um modo de sobrevivência e uma obsessão inerente ao humano. Existe justa polêmica entre vocês sobre o que pode ser classificado sob a qualidade artística ou não. Se me permite, compartilho da experiência empírica minha peneira fina contra a dúvida: arte é um apanhado de atenção em meio à restante distração. A arte pode ser ou não bela, pode ser simples ou complexa, tradicional ou inventiva, de vanguarda ou nostalgia, fresca ou a mofar. O mandatório é que surta efeito motor em quem com ela interage, mesmo que uma breve, até brevíssima, percepção do arredor ou, queiramos nós, de si próprio.</span><br />
<span style="color: #444444;"><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">P: A religião é, necessariamente, uma falsa moral?</span></span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">R: Atrelar religião a qualquer adjetivo ou definição não compete a mim, que já me expliquei neutro, mas a vocês, enquanto humanidade e individualmente. Em termos simples, a religião é o que você dela faz. Parece-me que alguns anos atrás coisas fantásticas sucederam-se, e assim pôde-se documentar em livros, hoje colocados em instância máxima e quase política nas doutrinas. São esses documentos tão primitivos quanto atemporais, tal o grau de universalidade de seu conteúdo, podendo-se pensar que fossem, então, mais de expressão artística e menos de narração fiel e preocupada. Tamanho foi o impacto dessas palavras e tantos os anos até aqui, que cada homem de poder moldou o que leu para melhor organizar, lucrar, cuidar ou até calar, conforme seu julgamento. Se a religião é uma falsa moral, foram vocês que assim o fizeram.</span><br />
<span style="color: #444444;"><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">P: Quando algo se torna real?</span></span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">R: Quando alguém nele pensa.</span><br />
<span style="color: #444444;"><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">P: Isso basta?</span></span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">R: Para tornar-se real? Sim. Para tornar-se percebido, não. Talvez a pergunta seja: o que é real? Mas você já usou suas oito perguntas.</span><br />
<span style="color: #444444;"><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span></span>
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span>
Letícia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/08417226535943169376noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2154314183767313403.post-3531217577987605272016-12-15T14:11:00.000-08:002017-01-11T17:30:16.269-08:00Humanos não falam<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><span style="font-size: x-large;"><b> V</b></span><span style="color: #444444;">ocê não percebeu que eu tinha morrido.</span></span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"> Embaixo da fundação eu gritei até a terra me engasgar. Mas você dormia em outro continente, não pôde ouvir.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"> Pedi para as minhocas me levarem até a superfície, Ou um copo d'água já estaria ótimo, eu disse, mas elas não deram ouvidos e trocaram os pés pelas mãos – ou as mãos pelos pés? Eu de cabeça para baixo no escuro molhado.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"> Com dó de mim, os fungos conversaram entre si, Façamos o que podemos, o que sabemos. </span><span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">Eles beberam meus mucos e ceiaram minha testa, lamberam os ossos e deixaram o coração para o fim. Essa parte está dura, eu ouvi de um deles. E pensei, Como é bom estar morta e enterrada para você. Quem de nós mais se beneficiou?</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"> Eles me fluidificaram e me fizeram microeu, e sem escolha fui sugada por uma raiz adjacente. Subi por túneis de seiva e miniaturas de artéria em verde claro. Obrigada, fungos, eu disse. Mas não saiu voz porque micróbios não falam.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"> Depois um azul no céu se escancarou em minha frente quando desabrochei pela manhã em cinco pétalas burras. Um azul que eu reconheci em cada tom. Eu conheço toda nuance dessa paleta, azul é como uma língua nativa para mim.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"> Brotei em seco e esperei a chuva.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"> Mas só veio você me procurar.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"> Sem saber do processo, buscou por minha forma humana e zangou-se ao encontrar sequer os restos. Depois de tantos anos, veja você, o que esperava de mim?</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"> Flores também não ouvem som, não vêem coisas.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"> Mas o seu corpo bípede vibra unicamente, nada escapa por completo da natureza. Sei que eram seus pés e, quando você chorou, fez-me aumentar.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">Você me escolheu e me colheu num impulso de misericórdia: Que florzinha insistente, você pensou alto, e eu encolhi, fraca e lilás. Só não me devore mais essa vez, já sou tóxica. E não me leve para casa, morrerei sob sua vigília num copo com água e cloro. </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"> E não posso morrer de novo. Não posso morrer de novo. Não me mate sem perceber de novo.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"> Você apertou os olhos, pensou ter ouvido alguma coisa, Mas flores não fazem som, nem vêem coisas. Dessa vez você disse em voz alta.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"> E desfez seus dedos em pinça e me viu retornar à fundação. É um longo caminho do cimento ao solo. </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"> O movimento me alegra. </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"> Mas eu odeio seu rosto ao me ver cair. </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">---------------------------------</span><br />
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Inspirado em</span><br />
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">http://picold.tumblr.com/post/152694018386/darksilenceinsuburbia-debbie-millman-the</span><br />
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;"><br /></span><span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Sahge: não consigo comentar em seus posts, mas li aquele que me enviou, obrigada por compartilhar e diga que vai continuar escrevendo!</span>Letícia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/08417226535943169376noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2154314183767313403.post-80382535264454047322016-12-04T11:20:00.003-08:002016-12-15T14:33:29.295-08:00Saco plástico<div>
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><b><span style="font-size: x-large;">S</span></b><span style="color: #666666;">e sou humano, tudo o que faço, por definição, é humano.</span></span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">Por que então não me sinto uma pessoa?</span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">O quarto uma toca para fugir do toque, o comportamento máscara de algodão doce, os homens só hostilidade. Lidar com o outro me obriga a confrontar minhas misérias e inabilidades, convivo e assusto-me fronte ao progresso adiante, feito susto adiantasse. Como todos eles construíram pontes? Sou saco plástico boiando no oceano, gritando que sou ilha: "liga-me a você!"</span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">Nunca sou dada ouvidos.</span></div>
<div>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">Se sou humano, tudo o que sinto, por definição, é humano.</span><br />
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">Por que então não me vejo convencional?</span><br />
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">As frases falhas tentativas de fazer-me deles, aproximação plástica, plácida gritaria. Lidar com o outro me obriga a mostrar o que ainda não aprendi, brigo comigo feito um par de irmãos. Como todos eles encontraram sossego? Sou pote vazio, rachado em silêncio: "enche-me de algo!"</span><br />
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">Mas nunca sou dada ouvidos.</span><br />
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">Se sou humano.</span><br />
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">Se sou humano.</span><br />
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">Deus que me livre. </span><br />
<span style="color: #666666; font-family: "verdana" , sans-serif;">Eu queria ter sido saco plástico.</span></div>
Letícia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/08417226535943169376noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2154314183767313403.post-4399959693820392362016-10-17T19:47:00.002-07:002016-10-17T19:47:57.726-07:00Como desaparecer completamente<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: x-large;"><b>E</b></span><span style="color: #444444;">scute conversas terríveis sem opinar enquanto sua alma é sugada.</span></span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Deliberadamente deixe mensagens fermentando 2 dias quando todo mundo sabe que você não tira a cara do celular.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Diga que vai. Não vá. Não avise.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Pegue a primeira roupa do armário para não desistir de tomar banho e diga que não se importa com o que vão pensar.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Tenha um plano A, difícil demais, desista. Tenha um plano B, comum demais, aceite. </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Durma tarde. Durma pouco. Durma demais.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Furte chiclete na fila do mercado.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Assuma com orgulho que você se autossabota.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Deixe que os outros te interpretem errado, explicar dá preguiça e eles não valem a pena.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Encontre um diagnóstico para culpar suas falhas e justifique-se com ele sempre que possível.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Julgue sua própria produção e a esconda de todo mundo.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Aprenda a conviver com uma casa bagunçada.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Repita diálogos destrutivos para si mesmo numa base diária e crie subversões imaginárias. Deixe tudo se embaralhar e esqueça como as coisas realmente terminaram. </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Reclame.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Invista tempo em ideias inconcebíveis e paralize-se diante do mundo real.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Seja grosseiro com quem tenta te ajudar e rasteje por quem te maltrata.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Coma fast food. Dispense o copo dágua. Fume.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Assista traços de personalidade originais te abandonarem e finja demência.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Nunca perdoe seu ex.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Reanalise até achar um motivo para dizer "não".</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Acostume-se a inventar desculpas automaticamente ao invés de admitir que não quer.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Crie vícios e medos teimosos. Seja você mesmo teimoso e inflexível.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Faça mais visitas ao passado do que aos amigos.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Perca prazos e vencimentos. Culpe a rotina.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">E mais importante</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Deixe tudo se registrando silenciosamente, cubra com um tapete anatômico, durma e redurma em cima de frustração e não se mexa.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">E não se mexa.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">E não se mexa.</span>Letícia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/08417226535943169376noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2154314183767313403.post-50366559138031071522016-10-02T14:24:00.005-07:002016-10-02T14:25:32.071-07:00 Até faz sentido // mas é ilógico<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="background-color: white; font-size: 13.4px; text-align: center;"><i><span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">I'm trying to get out</span></i></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="background-color: white; font-family: "courier new" , "courier" , monospace;"><i><span style="font-size: 13.4px; text-align: center;">Find a subtle way out</span></i></span></div>
<span style="background-color: white; font-family: "courier new" , "courier" , monospace;"><i>
<span style="font-size: 13.4px; text-align: center;"></span></i></span>
<div style="text-align: right;">
<span style="background-color: white; font-family: "courier new" , "courier" , monospace;"><i><span style="font-size: 13.4px; text-align: center;"><span style="font-size: 13.4px;">Not just cross myself out</span></span></i></span></div>
<span style="background-color: white; font-family: "courier new" , "courier" , monospace;"><i><span style="font-size: 13.4px; text-align: center;">
</span><span style="font-size: 13.4px; text-align: center;"><div style="text-align: right;">
<span style="font-size: 13.4px;">Not just disappear</span></div>
</span><span style="font-size: 13.4px; text-align: center;"><div style="text-align: right;">
<span style="font-size: 13.4px;">I've been trying to stay out</span></div>
</span><span style="font-size: 13.4px; text-align: center;"><div style="text-align: right;">
<span style="font-size: 13.4px;">But there's something in you</span></div>
</span><span style="font-size: 13.4px; text-align: center;"><div style="text-align: right;">
<span style="font-size: 13.4px;">I can't be without</span></div>
</span><span style="font-size: 13.4px; text-align: center;"><div style="text-align: right;">
<span style="font-size: 13.4px;">I just need it here</span><br />
<i style="font-size: 13.4px; text-align: center;"><span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Oh I need</span></i></div>
</span></i></span><span style="background-color: white; font-family: "courier new" , "courier" , monospace;"></span><br />
<div style="text-align: right;">
<span style="background-color: white; font-family: "courier new" , "courier" , monospace;"><span style="font-size: 13.4px; text-align: center;"><i>New ways</i></span></span></div>
<span style="background-color: white; font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">
</span>
<div style="text-align: right;">
<span style="background-color: white; font-family: "courier new" , "courier" , monospace;"><span style="font-size: 13.4px; text-align: center;"><i>To waste</i></span></span><br />
<i style="background-color: white; font-family: "courier new", courier, monospace; font-size: 13.4px; text-align: center;">My time</i></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="background-color: white; color: #444444;"><span style="font-family: "verdana" , "arial"; font-size: 13.4px; text-align: center;"><br /></span></span></div>
<span style="background-color: white;"><span style="font-family: "verdana" , "arial"; font-size: x-large; text-align: center;"><b>P</b></span><span style="color: #444444; font-family: "verdana" , "arial"; font-size: 13.4px; text-align: center;">orque eu não quero incomodar a sua paz.</span></span><br />
<span style="background-color: white; color: #444444;"><span style="font-family: "verdana" , "arial"; font-size: 13.4px; text-align: center;">Então eu calo.</span></span><br />
<span style="background-color: white; color: #444444;"><span style="font-family: "verdana" , "arial"; font-size: 13.4px; text-align: center;">Se essa omissão estiver fazendo casa no mais vital de mim mesma? Que azar! E sairia do quarto num tom de fatalidade, com o controle na mão (espero que ninguém veja, que eu poderia consertar tudo isso tentando do jeito certo).</span></span><br />
<span style="background-color: white; color: #444444;"><span style="font-family: "verdana" , "arial"; font-size: 13.4px; text-align: center;">Encontro mais estrada, mais sol na cara, mais noites em silêncio e progressivamente mais espaço na cama. E eu queria que isso tudo tivesse a ver com você. Sem querer, e de uma forma, não deixa de ter. A atmosfera pede em códigos para você ler, mas não: eu não sou mais inteligente que você com toda a minha poesia de segunda. Mas eu nunca disse que sou coisa alguma.</span></span><br />
<span style="background-color: white; color: #444444;"><span style="font-family: "verdana" , "arial"; font-size: 13.4px; text-align: center;">E logo você, com todo o seu domínio da língua, escolheu falar de mim (de mim?) no tom mais baixo que encontrou. </span></span><br />
<span style="background-color: white; color: #444444;"><span style="font-family: "verdana" , "arial"; font-size: 13.4px; text-align: center;">Ficamos aqui, chutando esse corpo morto. Quem sabe ele não volta a respirar? Mas dessa vez quem mata é você, que eu não mexo um dedo a mais para me defender. No fim eu só te machuco.</span></span><br />
<span style="background-color: white; color: #444444;"><span style="font-family: "verdana" , "arial"; font-size: 13.4px; text-align: center;">Quando eu lembrava de você, era num tom brando,</span></span><br />
<span style="background-color: white; color: #444444;"><span style="font-family: "verdana" , "arial"; font-size: 13.4px; text-align: center;">era uma cortina branca, </span></span><br />
<span style="background-color: white; color: #444444;"><span style="font-family: "verdana" , "arial"; font-size: 13.4px; text-align: center;">fina, voando janela afora de manhã: tinha uma leveza e dança, e alguma melancolia que eu não conseguia nomear, acabava por me fascinar também.</span></span><br />
<span style="background-color: white; color: #444444;"><span style="font-family: "verdana" , "arial"; font-size: 13.4px; text-align: center;">Agora tem gosto de bituca de cigarro.</span></span><br />
<span style="background-color: white; color: #444444;"><span style="font-family: "verdana" , "arial"; font-size: 13.4px; text-align: center;">Eu lembro da sua grosseria e analiso, inconclusivamente, suas acusações. Já não passou tempo o bastante? Já não crescemos um pouco? Você não estava ótima?</span></span><br />
<span style="background-color: white; color: #444444;"><span style="font-family: "verdana" , "arial"; font-size: 13.4px; text-align: center;">Me perdoe. Me perdoe.</span></span><br />
<span style="background-color: white; color: #444444;"><span style="font-family: "verdana" , "arial"; font-size: 13.4px; text-align: center;">Porque quando eu estava lembrando era você na minha frente, Macarronada Italiana com um garçom ágil demais. É você no Container desajeitada porque eu paguei a conta toda em segredo. É você falando que eu sou enorme na Estaleiro. É você furtando um colar que eu não sei tirar do pescoço na Forever 21. É sua camiseta que eu uso pra dormir. É meu diário empesteado de F. É um domingo marrento na praça da paz, com o Bento sem dar sossego. É uma porção de coisas boas, de belezas, de memórias. É princesa Jujuba e é Canadá e sou eu me rasgando toda na sua frente, eu nem ligava mais. É você falando que eu consigo, que eu tenho talento e sensibilidade.</span></span><br />
<span style="background-color: white; color: #444444;"><span style="font-family: "verdana" , "arial"; font-size: 13.4px; text-align: center;">Eu me lembro, que fui eu, porque não tinha mais eu: tinha uma forma humana vivendo no propósito de não te frustrar. Tinha um sonho sufocado. E agora, agora mesmo, enquanto eu pseudoconverso com você, tem menos ainda. </span></span><br />
<span style="background-color: white; color: #444444;"><span style="font-family: "verdana" , "arial"; font-size: 13.4px; text-align: center;">E isso é tudo.</span></span><br />
<br />
<br />Letícia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/08417226535943169376noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2154314183767313403.post-5207259270237769532016-10-02T12:54:00.000-07:002016-10-03T04:10:42.787-07:00Adults are, like, this mess of sadness and phobias<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><b><span style="font-size: x-large;">J</span></b><span style="color: #444444;">oel estava num relacionamento quebrado. Acontece.</span></span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">Seu amor o apagou então ele resolveu fazer o mesmo.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">No começo, estava fazendo a coisa certa. "Eu estou apagando você e eu estou feliz."</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">Mas as memórias foram se dissolvendo, uma a uma, cada vez mais douradas, progressivamente mais preciosas. Uma cabana no cobertor: <i>você não é feia, você é linda. você é linda. você é linda.</i> Ah, por favor, me deixe ficar com essa memória. Só essa.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">Mesmo assim, o processo foi até o fim. Um recomeço forçado na cama até então compartilhada. Uma ressaca sem porre.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">Mas eles funcionavam, por fim, eles se encontraram de novo <strike>por acaso</strike>. Montauk. E se gostaram igual, sem saber que já viveram a vida e morte um do outro. É insustentável freiar o mais selvagem de si.</span><br />
<br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;">Mas e se eu não te encontrar em Montauk? </span>Letícia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/08417226535943169376noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2154314183767313403.post-5565735470011582372016-10-02T12:41:00.000-07:002016-10-02T12:41:11.384-07:00Minha Brastemp fede mas nenhum pote que eu abro está estragado<span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: x-large;"><b>E</b></span><span style="color: #444444;">u acho que ainda sou uma pessoa. Mas eu poderia estar errada.</span></span><br />
<span style="background-color: white; color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Eu acho que sou feita de finais de semana e de hambúrguer com cebola caramelizada. Essa quinquilharia digital e os meus erros infantis levantam o monumento que sou, esculpido em carne por algum artista mal qualificado. Foi o que eu pude pagar.</span><br />
<span style="background-color: white; color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Já dos interiores... </span><br />
<span style="background-color: white; color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Vou me desfazendo, fibra por fibra que cede ao puxões. Desapareço silenciosamente, com medo de fazer barulho e te acordar. Vou dizendo tchau para todos os sentados durante essa reunião de última hora, com medo de atrapalhar. Desculpa eu estar sumindo, prometo que estou encontrando a melhor saída possível.</span><br />
<span style="background-color: white; color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Balbucio uma reza em suspiros de castigo e dúvida, limpo a culpa escorrendo da boca, compro mais um vidro e continuo andando, procurando outro hospedeiro.</span><br />
<span style="background-color: white; color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Eu poderia estar errada, e pensar em você não ajuda em nada.</span><br />
<span style="background-color: white; color: #444444; font-family: Verdana, sans-serif;">Mas eu acho que ainda sou uma pessoa.</span><br />
<br />Letícia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/08417226535943169376noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2154314183767313403.post-36752385486937810452016-09-19T22:01:00.001-07:002016-09-19T22:07:56.168-07:00Se a lagarta não quiser mudar você acha que a borboleta apodrece lá dentro?<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><span style="color: #444444;"> </span><span style="font-size: x-large;"><b>O</b></span><span style="color: #444444;">co, oco, oco. Engole vazio e vomita rouco.</span></span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"> Se eu não romper <span style="background-color: white; font-size: 16px;">–</span> enquanto digo ou enquanto escuto <span style="background-color: white; font-size: 16px;">–</span>, então foi em vão. </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"> Criei hábito de amargar os momentos sutis com cobrança adulta, esculpir meu caixão com as facas de cozinha que me deram para desabrochar. Para então me transformar em que? em gente? mas já não sou gente? </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"> Então me pergunto que diabos estou fazendo. </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"> Porque tem sempre alguma coisa faltando. Tem sempre alguma coisa faltando e eu me sinto a escalar o Everest do autogerenciamento: frio, ar artificial, cansaço, imprecisão de resultados, constante avaliação do dano em caso de desistência e cálculo de energia necessária para chegar: lá. Seja lá onde o <i>lá </i>esteja escondido hoje. Meu corpo parece subir mas bem poderia estar andando em círculos. Perdi minha régua então nunca irei saber.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"> Perdi a Letícia certa então uso essa de segunda mão. De segunda mãe. De segunda-feira, quando a fadiga espiritual já chega com agulha na mão: examinemos sua situação interna. </span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"><span style="color: #444444;"> Tenho medo de não dar conta, alguns dias certeza. Sou gulosa demais para perdoar mais um erro confeitado em açúcar. Vou devorando todas as possibilidades. Vou doando meus pedaços aos dias passantes: fique com essa parte de mim! não estou usando mesmo. De repente desapareço, e me pergunto: o que aconteceu aqui? Sem lembrar que foi tudo consentido. </span><span style="font-size: xx-small;">(sem sentido)</span></span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"> Continuo. E sem me lembrar que não há botão <i>rebobinar</i>, que não sou feita de fita mas de célula. Sem lembrar que não preciso de afago mas de ouvintes atentos, que o tempo tem estômago maior que o meu. Sem lembrar o que quer dizer cada ciclo: eu tudo esqueci. Eu tudo abafei. E torno a repetir: é difícil.</span><br />
<span style="color: #444444; font-family: "verdana" , sans-serif;"> Como é difícil estar confortavelmente fincada no caos.</span>Letícia Gomeshttp://www.blogger.com/profile/08417226535943169376noreply@blogger.com2