segunda-feira, 2 de abril de 2012

She loved you for you

"Não ouse olhar pela janela, querido, tudo está em chamas." - T. Swift feat. Civil Wars

Como um feto tirado do ventre já morto, eu te abortei. Foi como enterrar um cadáver já decomposto, como assoprar uma vela apagada.
Nós crescemos e fomos criando mundos diferentes dentro de nosso egoísmo, deixando a poeira corroer as entranhas do motivo pelo qual nos unimos. O que aconteceu? Eu juro não saber. Porque, se nossas vidas paralelas se juntaram apenas por um fio, e esse fio foi o amor, então por que estamos tão longe?
Repentinamente, uma dor se apossa de mim, como um único vírus que se faz inalado e mata o organismo inteiro onde se hospeda. Repentinamente, eu paro e fico me observando pelo vidro. Quero desviar o olhar, mas é impossível fugir de mim. No que eu me tornei enquanto não escrevia?
Sempre foi tudo para você: minhas unhas, minhas roupas, meu cabelo, minha atitude, minha fé, minha caridade, meus finais de semana. Sempre fui desesperadamente sua, mãos trêmulas ao enroscar os dedos na sua nuca, dedos travados ao arranhar suas costas. Tudo o que eu fiz, tudo o que escrevi à punho, todo o ar que eu respirei. Coração bate apertado quando lembro que não conseguirei te esquecer.
E nós nem vimos o seu filme do Iron Maiden, nem fomos comprar sua camiseta do Angra na feira hippie. Nós nem cozinhamos aquele macarrão com molho de maracujá e frango grelhado do seu livro de receitas. Você nem experimentou a feijoada da minha vó. Eu nem te dei aquele controle vermelho do PS3.
E eu sou de uma carência tão descabelada, dou nó em toda falta de atenção. O receio de dizer que lhe amava mais do que a mim foi pela certeza de que não viria resposta de sua boca.
Que pena que viramos esses frágeis brinquedos nas mãos da criança Universo. Deixamo-nos arrastar pela mais leve brisa, até colidir com um jardim de rosas. Mas nos enroscamos nos espinhos e o que enxergo de você hoje é uma face desfigurada pelos arranhões. Você está em carne viva e meus olhos sangram. Sua imagem não poderia ser pior.
Uma estrela morre do meu céu agora. Sem brilho, sem barulho. Apenas faz:



Não posso dizer que estou triste, mas definitivamente não estou rindo à toa. Era o inevitável, eu já me preparava para o final. Se eu signifiquei tão pouco nas suas escolhas, como suas próprias ações mostraram nos últimos meses, o melhor que fazemos a nós mesmos é deixar que o fim nos carregue até nossas casas.
Sim, eu sinto falta. Mas não é de você, é de algo maior. Tanto tempo afastada de Deus porque você dizia que era exagero meu, e agora transcendo-me, preenchida em mim, preenchida Dele.
Eu me sinto mais viva a cada dia que passa. Meus ministérios têm crescido e não há nada agora que me desencoraja a amar tudo o que sinto e vejo. Respiro um ar de graça.
Todo o melhor para você, seus pais e seu futuro de sucesso. Você não é para mim. E quem é?
Vou seguir iluminada pela lua que ainda tenho lá em cima. Estão cuidando de mim e espero que de você também. Sem vingança, sem choro, sem nada de intenso. Deixe o desfecho fazer-se estático, como é de seu caráter. 
Best regards, mon amie.

Um comentário:

Kristal disse...

Lindo texto. Tudo passa. Um beijo no olho, mocinha.

E isso:

" Porque tenho saudade de você no retrato,
ainda que o mais recente?
E por que um simples retrato,
mais que você , me comove,
se você mesma está presente?"

-Cassiano Ricardo.



(É assim mesmo que acontece, espero que fique tudo em paz.)