Chegamos. Só pode ser aqui. As árvores disseram que depois do choro vem a vingança, mas eu já chorei e isso que agora vivo é apenas redenção à minha própria fraqueza. Também à fraqueza da minha própria alma. O fantasma do meu quarto se materializou na sua ausência, a sua voz não consigo mais escutar em música alguma e eu apenas sigo em frente arrastada pelo meu engano consciente.
Eu costumava ser forte em você e, se eu gritasse em pesadelos, você vinha me fazer cafuné até um despertar macio acontecer. Eu costumava ter fé no que você reservava para mim, mesmo sem ter noção do que era, mas agora eu só tenho fé no que toco. Eu costumava gostar do que as pessoas usavam por dentro, agora eu só olho para a Prada de suas bolsas. Eu costumava ser firme na minha demonstração muda de equilíbrio humano, agora eu despenco duas vezes por passo.
Eu te expulsei como um demônio e agora ando com a gangue que nós costumávamos xingar. Eu fabriquei meu próprio oxigênio porque ele me pareceu mais fácil de respirar. Eu pintei meu quarto de preto para não deixar a sujeira aparecer. Eu me pintei de vermelho para ninguém me ver sangrar.
Mas a nossa estrada de inox começou a oxidar, a cadeira é muito alta para que eu possa sentar. A minha posse sobre a sua falta de poder em mim operou contra a minha salvação. Agora eu como o que sobrou no chão dizendo para mim mesma que esse é o melhor banquete de todos. Eu fujo de mim e só me encontro no travesseiro.
Meu terço está empoeirado, meu olho está delineado, minha saia está curta e meu sorriso está forçado. Fazer rima pobre assim é fácil, queria eu me ver parnasiana.
Já perdi minha herança tão cuidadosamente calculada e o que produzo mensalmente não alimenta meus desejos quebradiços. Se eu tenho volta, você poderia me indicar o caminho?
Não, melhor ainda: poderia me esperar no final? Eu sei exatamente o que fazer, discernimento nunca foi problema para mim. É que eu estou cansada de ser só metade Letícia, eu estou cansada de tentar impressionar quem fala mal de mim pelas costas. As árvores me disseram que, depois do choro, vem a vingança. Mas isso é a minha redenção, e meu pedido de perdão, que eu sempre nunca faço mais. Te vejo no travesseiro.
Pronto, agora estou satisfeita com um texto. Esse sim é o Escafandro Dela.
4 comentários:
Tudo fica mais fácil quando nos tornamos inteiras.
Tão perfeito o escafandro dela, ela é delicada quando deve ser, rudi quando necessário, espontanea sempre! Leticiia tão bom ler você por inteira !
Beijo meu .
Que blog lindo Letícia, *-* Estou seguindo, né. Vou acompanhar o máximo que puder. Não preciso dizer que amei os textos daqui né?
beijos :*
Ah, não esquenta não, Letícia, eu também prefiro ler contos por inteiro, hihi (:
Pode deixar que quando estiver todo pronto, te aviso.
Anyway, senti falta desses seus textos tão complexos e ao mesmo tempo tão simples. Amo essa tua maneira de brincar com as palavras, de "poetizar"...
Um beijo pra ti, flor e obrigada pela visita *-*
FODAAAAAAAAAA>...
Eu fico puta comigo mesmo quando percebo que inconscientemente eu estou fazendo coisas para que pessoas com as quais eu não me importo cairem no agrado!
@juhhouse
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