sábado, 28 de abril de 2012

Um respirar inconscientemente venenoso




Você é um feto do que poderia ser. Suas necessidades são de papel machê, e o céu não está para praia.  
No que você apoia a sua salvação? Em relacionamentos fúteis com pessoas que te amam por interesse e te largarão assim que acharem alguém cuja técnica é melhor. Você se enrosca entre as paredes do seu quarto, respiração apertada nesse inferno branco te cercando. Aqui dentro é sufocante. Lá fora, asfixiante.  
E você já sofre de asma, não pode se dar ao luxo de perder o ar. Então fabrica traços de uma existência prazeirosa. É o prazer pelo prazer, um acordar porque seus olhos não aguentam mais o escuro dentro de você, um respirar inconscientemente venenoso. 
No seu ventre as tripas se mechem devagar, esperando talvez uma nova vida. É um tédio típico de suicídio.  
A lua não se põe e o sol é eternamente minguante.  
E tudo isso porque você não sabe o que lhe está guardado. Anjos oram a'O Pai pedindo para te puxar pra cima novamente. Os sinos do céu soam uma nota sofrida e chove nos seus olhos. 
Provavelmente você nunca se perguntou se os dias são realmente estáticos assim ou se há algo maior te aguardando do outro lado. É uma pena que o inverno da sua alma dura o ano todo. Realmente lastimável que você coma do chão quando lhe está reservado o melhor lugar do banquete.  
Mesmo assim, você mantém o ritmo mórbido. Cada dia é uma luta imóvel travada dentro do seu peito. Ele não aguenta mais bater à esmo. Que dia é esse? Que mês é hoje?
E eu apenas assisto de fora, você trancada numa bolha que nunca estoura. Seu coração ritmando assustado, escondido por sua face de princesa e voz de glacê. Sinto medo ao pensar no que vai ser da sua história daqui uns anos, se é que vou estar lá para te ver desmoronar.
Mas há um grito rouco soando dos meus pés até sacudir minha cabeça, dizendo que você tem jeito. Se eu pudesse levar-lhe daqui para o meu mundo e lhe mostrar o quanto há para viver no outro time... Você teria os sentimentos mais satisfatórios que nunca imaginou sentir. 
Mas a escolha precisa vir de você. 
Por favor, enfraqueça seus prazeres e abra seus olhos.

butterfly by jana



2 comentários:

Brunno Lopez disse...

Enfraquecer os prazeres e abrir os olhos.

Essa foi a coisa mais forte que li nos últimos meses.

O texto está denso, porém, poderoso.
Intenso e sincero.

Acho que essa é a arte da verdade. Escrever para deixar os olhos vidrados o tempo todo, fixos.

Atualize sempre, suas ideias são potenciais.

Sara Castro disse...

de venenoso matou. Mas morrer e recomecar. :)

eu sempre adoro tudo que vc escreve!