sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Egópolis

   Eu sei que eu me diria se eu me soubesse. Quem iria saber? Eu tinha certeza que a pá cavava até o ouro, mas de pouco fui vendo o pó dos outros corpos enterrados lá embaixo  aqui embaixo  também segurando seus instrumentos de escavação. Eu estou abaixo dos meus pés e eu me deito com eles.
   E eu me sinto eles. E eu me dissolvo neles.
   De todos os avisos que me cegaram, e da minha determinação em rastejar contra: eu acabei tão domada e medíocre quanto qualquer outra. Eu quero saber te amar.
   E eu já cansei de ser monstro. Eu já cansei de ser santa. Eu já cansei de ser Letícia e, por hoje, eu quero ser outra pessoa. Eu quero ser uma formiguinha na calçada ou uma foto pinada na sua parede. Eu posso ser seus cadernos velhos? Eu só vou deitar ali e te olhar, eu prometo, e eu não vou bagunçar a sua vida.
   Uma eu que não admirasse os caminhos sinuosos, uma eu que tivesse pernas finas e uma certeza absoluta do que fazer e como ser e como lidar. Uma eu que não eu.
   Como eu vim a ser esse conjunto de multidões? Eu sou tudo o que eu já vi; eu só não sou eu.
   Que o teu colo remanesça casa, protegendo-me de mim, furtando-me do vazio que eu sou e dos homens que me ensinaram a diminuir e diminuir. Se você sair agora, eu acho que desmonto em dez.



2 comentários:

Anônimo disse...

Espero eternamente seu cheque-mate. Até lá vamos continuar brincando de autossabotagem e destruindo tudo em volta.

Anônimo disse...

Me sinto na quadrilha de Carlos Drummond