Letícia, Monstro

---------- 17 de novembro de 2014

Eu queria que alguém lesse as coisas que eu escrevo.
Eu sinto que às vezes até tem alguém. Mas nunca é quem eu quero atingir. Quem eu quero atingir?
Eu fui parando de escrever por falta de ter o que dizer. Também por não creditar o que eu conseguia produzir. Era sempre tolo, infantil, tedioso, pedestre. Eu me fechei, em última e primeira instância, por medo do outro ler e sentir-se decepcionado por mim.
Porque, se eu mesma vivo em decepções por eles, o que me protege de me acharem medíocre?
Eu estabeleço padrões altos, até ficarem altos o bastante para eu me paralisar diante deles, abandoná-los e contentar-me com recompensas miseráveis.
Quanto a mim, não sei se ainda tomo parte no grupo. 

Tenho tido medos. Dos mais brandos até os pânicos e terrores. Durmo mal e pouco, ou mal e demais. Sou legitimamente preguiçosa e introvertida, a ponto de fechar cara pra qualquer ser humano tendo convivido mais de dois dias ao seu próximo lado. Não consigo me explicar, mas duas horas sozinha me renovam e, com alguma esperança, sou o mesmo bom humor de antes.
Tenho vergonha de tudo o que não consigo entender. Política não faz sentido para mim (aparte de sua nuance humana, psíquica), televisão popular também não, aglomerações humanas geralmente também não.
Ofendo-me facilmente para punir-me depois, por ser tão frágil; não consigo segurar o choro sempre que quero. Mas, no geral, não tenho vergonha de chorar.
Flutuo entre a total disconexão comigo mesma e o completamente autoral e bem fundado. Tenho oscilações comportamentais e frequentemente desejo poder mudar tudo o que sou para algo mais simples e assimilável àqueles com quem interajo.
Mas invariavelmente volto ao cerne de minhas perguntas, e repito aquela que mais me define: sou um monstro ou isto é ser uma pessoa?