terça-feira, 23 de agosto de 2016

Engenharia de cardápios, bloco de notas.

  Olho-te do outro lado do microcorredor. Rosto pálido, olho baixo, bagunça e desgaste.
     Do dia anterior e dos anteriores àquele, do homem de hoje e de todos os que vieram antes: por que você sempre acaba no mesmo lugar?
     Tem um agasalho college te embrulhando a contragosto e seu cabelo pintado, indeciso entre liso e cachos, comporta-se por dentro da gola da blusa. Dia nublado, eu gosto assim. Mas você é dada aos de sol.
     Um desenho no post-it luminescente, um calcanhar na cadeira da frente, uma piada amarela do professor para você, que não prestou atenção a tempo, mas riu. Por que não consegue ser malvada?
     A garota malvada...
     A garota malvada manda a real. Ela te olha no fundo e te pega mentindo. Ela sabe se defender. Ela dá como ninguém. Ela não tem uma cicatriz nem um futuro regrado à frente. Ela é magricela, segura, admirada. Ela é melhor.
     E você tão boazinha, todo mundo sabe disso.
     E vai cansando, acumulando, rangendo. Uma discussão tapete abaixo, um sussurro em lugar de grito, um carinho no espinho.
     Olho-te do outro lado do microcorredor. Quero consertar esse rosto, nunca consigo. Você não seria assim se tivesse escolha, sei disso porque sou você às vezes.
     Mas você é minha garota. E se não posso te melhorar, posso atravessar esse dia com você.
     Cuide-se, enquanto te espero voltar.

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