segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Como um souvenir desinteressado

"Girl, I've seen your dreams
And they were filled with darkness."
"Sundown" - Young Pilgrim


Tenho nível superior em me enganar; conduzo o ato com minhas mãos tão habilmente que, muitas vezes, não sei se estou jogando ou sendo jogada (para fora da verdade). Como não deveria ser surpresa, esse hábito nos infectou. No começo, era um mosquito rondando o quarto numa noite insuportavelmente quente. Agora, o inverno chegou e tudo o que me resta é a ferida aberta, chorando para sumir e destinada a ficar.
Por vezes, tenho flashbacks de afeto puro e inocente. Por vezes, sinto que estamos caminhando rápido demais para o nosso futuro. Por vezes, sinto que estou fazendo merda com a gente. Dentre todas essas vezes, não há ao menos uma da qual eu não tenha consciência ou cujos esforços necessário para a reversão não gerem em mim uma preguiça devastadora.
Meu coração grita por você e meu corpo grita por prazer. Mas o prazer custa caro, deixa correntes como um souvenir desinteressado toda vez que visita e nunca dura nem um falso Para Sempre. Mas o amor não custa nada; ele senta no tapete, do lado de fora da porta, e só entra se você deixar. Ele não custa, não cheira, não pesa, não poliu.
O Amor é modesto o suficiente para deixar o Prazer pular sobre ele, fazer orquestra desafinada em seus ouvidos e ir embora como se nada tivesse se passado. O Prazer existe por si mesmo, entra egoísta sem ser chamado e hipnotiza com perfume para afogar, depois, no esgoto.
Eu me deixo fluir, conformada, pelos dias. Eu os passo na certeza de que estão longe da extinção e perto de serem perfeitos; deixo-me conduzir pelos passos da luxúria, vaidade, seja o que for.
Mas isso tem me incomodado como uma ervilha por baixo de vinte colchões. Eu estou cansada de encher potes de pulgas tiradas de trás da minha orelha, de enfeitar meus textos com figuras de linguagem para que eles pareçam mais sublimes, refletindo só a parte agradável de mim.
Tenho passado os meses me arrastando pelas falsas impressões que dou no Facebook, e eu não tenho medo de admitir, eu tenho coragem e estou aqui dizendo: daqui para frente, vou ser escondido de todos o que sou na frente deles.
O problema é que eu me prometo aqui e não me cumpro jamais. Eu já fui tão mais moradora desse quarto branco, esse atrás das letras do Escafandro... Eu vou continuar me enganando e enganando todo mundo? Ou farei o digno da antiga eu?
Quero jogar meu diploma de Especialista em Mentira no lixo mais tóxico que conseguir achar, e sentir calor bonito por dentro de novo, como eu era antes de prostituir minha fé.
O primeiro passo foi dado: tirei minhas roupas vermelhas, para que todos possam ver, agora, o sangue sobre minha pele branca. Eu estou preparada para os julgamentos. E, Mundo, não me aborreça com sua falsa ideia de perfeição. Eu sou antiga na área.

2 comentários:

Sara Castro disse...

Áh, meu Deus! Esse texto me leu! rs.
nem tenho muito o que dizer... Adorei Letícia, de verdade!
beijo.

Jeniffer Yara disse...

Seja verdadeira consigo mesmo antes de tudo,sempre \o/

Lindo texto.
Beijos