Um dia diferente, como todos os outros. O sol nasce destinado a morrer. Tem uma chave pendurada no cordão em volta do meu pescoço mas eu não sei o que ela abre.
E como se alguém se importasse, eu olho para cima, com um pulso crescente no meu coração. Vem de algum lugar uma inquietude, vontade de me esvaziar, sair de mim e transcender.
Grito. Grito com a minha voz e depois grito com a garganta e depois grito com o meu corpo inteiro, contorcendo-me ao sentir a vida jorrar de cada uma das minhas veias. O ritmo acelerado do som me faz arregalar os olhos. É o horror fazendo-se rei de mim, uma cena terrível inteiramente satisfatória.
Não podem me ouvir aqui; estou só, dentro de meu sonho. Eu criei esse lugar com as minhas memórias, construi essa fortaleza fajuta e gloriosa, a grama artificial. E quanto mais grito, menor é o espaço dentro de mim. Preciso de algo para me preencher, preciso me destrancar. A chave.
Puxo-a de meu colar e a cravo em meu peito. Não dói, não fere, não machuca de forma alguma. Desenforquei minha respiraçao e agora ilumino cada girassol do campo. Minha luz cresce. Cresce. Cresce.
Então o silêncio. Então a brisa. Então a cura. Eu posso me lembrar de quando era inocente e sinto-me novamente confortável debaixo de minha pele. É tudo tão calmo, limpo e leve.
É meu descanço.
É a morte.
Se alguém ficar preocupado: estou bem, sério, só quis inventar um sonho.
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