"Nó" - 21/07/2013
Eu ainda não decifro o que minha cabeça pensa quando eu bato os olhos numa foto nossa, ou quando um pedaço seu se estica pela minha memória, recriando o instante que eu achei que tudo pudesse se encaixar e a gente pudesse ser nosso. Não do erro, não da precariedade. É uma euforia, meu estômago se embrulha pra fora; saio do involuntário e me olho perguntando por quê você não é mais meu. Por quê você não quis ficar? Por que eu sou tão fácil de deixar? Eu sinto meu coração batendo melodicamente no molde, feito quisesse sair. E que sonho eu tivesse só essas perguntas pra responder. Eu não consigo falar. Eu nunca consigo falar. Pensar em você é um nó.
"Seu quarto à tarde" - 23/07/2013
Inventamos um sono e nos deitamos em trança, uns risos e carinho no rosto dele.
Silêncio. Olhos fechados. E parecia impossível mas parei confortável naquela posição por tempo o bastante, então me cansei e fiquei olhando pra ele em segredo.
Volta e meia ele acordava e mexia o maxilar, as māos dele agasalhando as minhas e eu estava viva.
Então foi vez dele despertar e eu fazer que dormia. Fechei os olhos forçadamente mas depois caí no sono, para acordar:
— Até sua respiração me excita.
Ri com o nariz e beijei o rosto dele em algum lugar desmapeado.
Não sei o que foi depois.
04/11/2013: "Você faz tudo ficar tão bem."
"Uma pergunta" - 04/12/2013
De todos os homens que engoli. E de todos os olhares que desviei. Da falta de valor que eu dei ao teu colo, e da falta que floresce em mim: é a primavera das suposições. Perco o ânimo, a paciência das pequenas interações com os íntimos. É tudo previsível e eu me vejo lendo pela oitava vez a mesma página de um livro. Eu já escrevi esse capítulo mil vezes na minha cabeça. E não me distraio, e só me entrego ao tédio; um diálogo inconclusivo, uma cama gostosa. Ainda compro roupas e me visto pensando em como seria se você estivesse me vendo pronta. E não consigo mais ouvir metade das suas músicas. Minhas vozes numa guerra civil e eu não sei qual Letícia vai ganhar quando abro meus olhos na cama, nos primeiros instantes do dia. Eu sou uma desistidora?
"Uma poça" - 28/12/2013
Eu deitada nos joelhos de alguém. Uma tenda oportuna abriga nossos corpos branquelos do sol, e eu troco mensagens com ele no meu celular de pedra e osso. Marcamos lugares, ele me espera sozinho.
Andamos, e eu não dou a mão, não dou a mão. Vemos alguma coisa e conversamos. Lama nojenta, meus sapatos só não mais sujos que os dele. Sento numa cerca. Era madeira, pintada de branco, desbotado e desgastando.
- Olha, eu já teria desistido faz tempo.
O que nós éramos ali? Eu sempre penso nisso.
Abraçou-me feito ostra, "This fire is out of control, I'm going to burn this city". Eu senti tanto medo. Ele abria a boca e eu tateava com os indicadores o mar que seguia.
E nós, nós estamos com os pulmões cheios d'água.
Eu queria é me pegar daquele dia, colocar num vidro de papinha, e observar até compreender toda a verdade. Mas se nem o que sobrou me deixa enxergar, valha degustar-me tão de fora.
Foi tão doce quanto foi amargo. E o que me abandona nos hiatos é pensar na proporção simétrica que essas duas características entre nós encontraram de ser.
Um comentário:
Me perdi aqui escolhendo randomicamente textos seus e os degustando.
E esse, com certeza, foi para minha lista de preferidos. Leria um livro sobre essa história a qualquer tempo!
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