domingo, 24 de maio de 2015

E o oceano e eu e o oceano

Eu não estou mais triste.
Eu só estou cansada desse lugar.
Porque os rostos são os mesmos - e de alguns deles eu até gosto. Mas as ruas vão mudando para pior e a ignorância desse povo só cresce. Como pode?
Eu quero escrever mais e eu quero comer mais. Eu quero mais frio e eu quero um espaço para mim.
Eu quero meu dinheiro, meus amigos, minha integridade, meu cachorro.
Porque eu não estou mais triste e tem uma infinidade de coisas que eu descobri que eu sei fazer. Eu sei ouvir. Eu sei ler. Eu sei ajudar. Eu sei calar. Eu sei lutar. Eu sei fazer comida. Eu sei mudar de ideia. Eu sei continuar com uma ideia. Eu sei fazer amigos.
Mas talvez eu ainda não saiba amar. 
Que tem uma leveza muito grande em mim, tão grande quanto um peso em mim. Eu sei deixar passar, escapar. Deixo ir com pouca luta, apesar de dentro chiar. Deixo porque deveria ser suave, espontâneo. Vê, eu já tive minha porção de luta armada.

Eu não estou mais triste.
Mas aqui não tem mais por onde crescer. Respiro ar repetido, o cabelo que eu corto recresce, o semáforo sempre fecha na minha vez.

Penso em sentar naquela poltrona minúscula por mais horas do que eu poderia suportar e sentir o medo que sei que vou sentir, para sair do outro lado e arriscar uma língua rude que vai tentar me rejeitar: uma língua com alergia a mim. 
Talvez, uma hora. Se eu merecer.

Um comentário:

Brunno Lopez disse...

Não julgo os merecedores da melancolia - ainda que concorde que tal sensação contribua na inspiração e normalmente renda textos interessantes -, mas aqui tudo parece um desabafo ainda maior.

Vejo citações bonitas num tema triste e me pergunto se era sua intenção desviar a atenção para a verdade atrás das letras ou se a verdade desfila na frente das palavras. Não sei de fato.

Mas sei que você, depois de tanto tempo, ainda escreve.
Isso é mais que você e o oceano. É um novo conjunto de grandes porções de água.