quarta-feira, 10 de maio de 2017

Texto medíocre de blog ordinário

     Uma puberdade aos 22 chega gritando manso e jura sem convicção nunca me ensurdecer. Não lancei livro nem álbum nem menu, nem uma carreira eu comecei a construir e peguei DP por falta na minha disciplina favorita. Invento que quero tirar fotos e fazer cirurgia plástica. Invento que vou num templo budista respirar de olho fechado e ver alguma luz salvadora que supostamente já está dentro de mim. Invento que vou mudar meu quarto, tirar essa Hayley Williams da parede e procurar meu próprio jeito de cantar. Invento tirar as roupas da gaveta e sintetizar tudo numa arara, vi num documentário que pessoas que possuem 33 peças de vestuário são mais felizes.
     Depois de uma cadeia de relacionamentos aprisionantes, dirijo mais pensando que dirigindo, penso mais do que respiro e penso num silêncio absoluto. Concluo que não tem jeito de ser o artista que se debate em mim quando tenho tão pouco de interessante para falar. 
  Naquele mesmo documentário uma mulher muito feia e inteligente explicou que por mais que se diga que andamos humanos muito materialistas, de fato nunca o fomos tão escassamente. Minhas blusas baratas mudam para papelão na primeira lavagem e a cada bimestre sou forçada a comprar um novo cabo auxiliar para ouvir música sem chiado. Não sei de memória a textura de uma rocha na beira da praia, nem dos dedos da minha avó, porque tenho medo de tocá-la.
     Não sei se o que me assusta é o velho ou o humano.
     Ao final dos meus seis meses de antidepressivo, atiraram-me bem no centro de 2017, completamente lúcida e agora com força de trabalho, para confirmar aos meus pais que sou essa inútil com sanidade e uma ótima moral. Leio sem parar, observo os homens todos, treino e vasculho meus talentos e tento não cair na síndrome do Instagram organizado. Volta e meia acordo com um pedaço de plástico na boca e só desengasgo deletando uma foto que, apesar de minha, não mais me diz respeito.
     Assisto no YouTube um comercial impulável de creme depilatório, filmado por homens dizendo que a mulher pode ter a aparência que escolher. Que o bonito é ser do jeito que ela escolher. A mulher que se depila é loira, magra, feliz e já está depilada. Quando o comercial acaba assisto a um vídeo Minha Experiência Com Silicone e confirmo: é isso que quero fazer.
     Há mais incoerências sob os meus pensamentos que apartamentos no centro da cidade.
     E não muito distante dorme um corpo no qual eu também inventei amor. É um amor difícil, porque não falamos a respeito. É um amor difícil porque estamos igualmente jogados na dúvida e na imanência de algo melhor, fingimos desaperceber que somos todos o mesmo fodido, procurando liberdade num maço mentolado e tombando a ponte até virar muro.
     E com tudo isso borbulhando, transbordando e espirrando quente na minha cara, ainda cozinho para descascar-me num fruto que me sacie. Ainda canto para balancear minha pobre oratória. E ainda escrevo porque se não o fizer é certo que morro ou mato alguém.

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