quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Glicínia

É assim que te vejo
Você indo embora
Com o futuro nos ombros 
A criança nas costas
Pra longe e devagar
Floresta adentro

Você é a semente e você é o fruto

As plantas vão crescendo 
Em câmera lenta
O caminho antigo repisado
É o mesmo lugar mas menos cuidado
É menos verde 
Tem menos gente
Eu te observo absorvendo o pouco ar


E rego pra tentar te acompanhar

Seus sapatinhos grandes
Roupa escura

Um corpo fino
Escapa em meio aos outros troncos
Um sol tardio e recolhido
Será que ele vai tentar
Me tirar da terra

E rezo pra que venha me podar


Floresço pra que venha me cheirar
Transpiro pra que venha me beber
Entorto pra que venha segurar
Dilato pra que venha me olhar
Orvalho pra que venha me aquecer
Bem me quer mal quer-me bem que mal faria 
  me escolher

Um comentário:

Sahge disse...

O sentimento que nos desperta é de Gula pelos seus versos.
Há Pecados Capitais piores (ou,melhores dependendo da perspectiva) para se inspirar alguém, portanto sossegue, Letícia.

Viemos, lemos e depois nos recolhemos para degustar vagarosa e egoisticamente o efeito dos seus versos. Alguns de nós voltamos, porém, para contar o mau feito, um tanto constrangidos, mas de forma alguma arrependidos, apenas para que saiba que você toca e nós, silenciosos ou não, ressoamos sua música...