ontem meu namorado que não é meu namorado chamou a ariana grande de gostosa. durante a reunião de amigos ele parou no meio, gost–. a raiva que sinto quando penso nisso é a mesma raiva que eu gostaria de ter ao acordar amanhã, segunda-feira, uma raiva que me formigasse cama afora para trabalhar e me concentrar tanto no importante que a ariana grande sumiria, minúscula. quando penso nisso é uma raiva danada. é uma raiva danada porque parou no meio, ficou palavra detida, estourou igual bexiga enchida errada: infla rápido e explode em silêncio imbecil. imagino ele dizendo um gostosa por inteiro, boca cheia e orgulhosa, gostosa. com os amigos, bebendo cerveja, gostosa. lançou a música e ela nem é tudo isso mas esse single ficou ótimo, gostosa.
fiquei ali sem saber o que clamar. alguém riu, ele mesmo riu, como se não fosse desrespeito, comigo ou com a ariana grande.
é difícil inspirar um homem a entender que as questões vão além dele, do pau dele, que isso está em todo lugar e há muito a perder nessa conduta. é difícil expirar. tanto é assim que fiquei preguiçosa, ou omissa – o resultado é o mesmo –, sorriso sumiu entrou no lugar um vazio triste. meu namorado que não é meu namorado perguntou se eu estava bem, que sensível, ao que lhe respondi com a cara mais amarga que a mulher consegue amenizar, tudo bem. gostosa. pediu-me que colocasse o single para tocar, neguei insistência após asfixiante insistência.
sufocado, perdeu-se esse momento em meio a outros menos ou mais relevantes, quando voltei da cozinha munida de bolinhos de carne estilo oriental espetados em pauzinhos de madeira. o meu protagonista realçou, quantos palitinhos. respondi sem direcionar o olhar, é um para cada merda que um macho fala. alguém riu. não sei se ele riu. a carne estava gostosa.
depois só fiquei ali, longe.
sinto não saber me colocar, não saber meu lugar. bebi e fumei meus problemas. não sei se quero um namorado que não me namore se for assim. sinceramente pouco me sinto no direito de amá-lo, já que pobremente amo a mim mesma.
abandonei a reunião e sumi para dormir, sem boas noites educados. apenas desapareci.
aceito ser a ciumenta. aceito ser a pelo em ovo. aceito ser a galinha. aceito ser a triste, a louca, a ingrata, a insegura. aceito o que tiver de me classificar para contar de mim quando isso acabar. aqui está, eu sou real. e eu sou imensa.
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