o menino que eu namorava no ensino médio é hoje amigo aos finais de semana quando saimos correndo em volta do parque com lagoa na cidade. na volta ele classifica minha troca de marcha quinta para quarta como imperceptível e digo a ele, o dia está pago. depois constatamos juntos a baixa umidade do ar.
quando menores achávamos nada disso nos assuntos, fico perguntando sozinha do que conversávamos. não era tanto sobre comida nem empregos difíceis, parecia mais sobre coisa pior, vidas não nossas e uma vantagem no outro que não tinha par conosco. era euforia e conflito e risada e leveza e hoje é tudo isso ainda mas menos.
somos bolsas de graça dilatante, cada vez mais fracas por esticar e crescer.
digo a ele que não aguento correr doente assim, ele daria duas vezes a volta mais longa. tusso, espirro, coço os olhos minúsculos chorando sem tristeza e ele aguenta o todo, minha lerdeza e quando falo muito e quando falo negatividades que todo mundo evita porque cada um já tem sua montanha de dores para curar. digo a ele e ele encontra um lado bom. não aguento correr seguida e penso em subida que pode ser melhor se escalarmos a montanha em lugar de tentar levá-la nas costas.
meus ombros se enrugam para cima e meus joelhos entortam para dentro. ele corre como se estivesse comendo claras em neve assadas com açúcar. fala baixo, ele fala pouco e suave.
e foge de dentro de meu carro quando o passeio termina, deixa-me drogada com fomes. faz a semana dele, enquanto a minha some. no próximo encontro a gripe está sarada e nossos corpos irão esticar e crescer, formigar e doer, esquentar e correr.
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