sei dosar quanto de notícias assistirei, quantas páginas lerei, quantas horas de pós-graduação on-line e quantos quilos de chocolate derreterei, mas perco a mão estupidamente quando me adentra um bocado voraz de solidão. apago a lâmpada principal e crio aconchego de abajur, tomo o banho mais quente que minha pele suporta e escrevo uma carta de amor de próprio punho em comemoração a um ano de namoro com o menino mais encantador que conheci. já tentei sarar fazendo as unhas, polichinelos, cantando, apertando meu cão contra meu colo. já tentei sarar lavando a louça, doando o desnecessário, me masturbando, ouvindo elza soares. já tentei sarar vendo vídeos sobre todo desconforto psicológico e associando meu quadro a minha época, minha infância, meus genes e meus hábitos. segundo o teste de personalidade big five realizado hoje, tenho motivos para me orgulhar de mim e de fato estou orgulhosa de algumas coisas que tenho feito. já tentei agir como se fosse tudo fantasia e fui genuinamente feliz por dois dias seguidos.
deito-me aquecida ao lado de um copo d’água sem cor, sem brilho, sem gosto. é o maior milagre do mundo, água é o mesmo que mãe. abraço um travesseiro do tamanho de uma pessoa e busco por acidente o pé de meu namorado com os meus. faço um carinho proposital na parte interna de meu antebraço e procuro dissolver-me em sono. o tempo irá passar e mais cedo do que imaginava os amestradores raios de sol iluminarão cada pedaço dessa prisão. se apenas eu conseguir adormecer.
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