quinta-feira, 6 de junho de 2013

Orgânico

A verdade constrói por hipertrofia. Por que não me pouparam da mentira quando era pequeno? Eles ergueram esculturas mais belas e puras do que eu, depois disseram que são um reflexo da minha fortaleza. Tolice. Tudo o que faço é apodrecer minhas entranhas. Se o pulmão ficasse do lado de fora, ainda fumariam tanto? É por isso que eu me deixo sofrer: meu rosto esconde a tempestade. Até que o hospital vire minha casa, não saberão como sofro. E que bons esses dias de anonimato, não me ditam como sentir, o modo que a cura viria. Eles esqueceram que eu escolhi sangrar.
A verdade constrói por hipertrofia. Até meus dedos se esquecerem do frio, eu escolherei o recesso. Vem esses dias de sol com vento, os mais meus, dando-me a esperança de que é hora de escrever. Só para o inverno cair em mim e eu acordar gelado no chão, orvalhado de suor. Eu não posso dizer sobre o que não compreendo; só posso admitir a dessapiência. Mas a visita dos teus olhos me obrigam a ressuscitar.
A verdade constrói por hipertrofia. Se eu ter-me como forte e inquebrável, e selar meu ideário com uma muralha intransponível, eu o serei de fato? Ou será mera fantasia infantil, do tipo que olham e sorriem com ares de benevolência superior? Suponho que ambos. Tendendo à segunda hipótese. E vamos ao músculo central.
A verdade constrói por hipertrofia. Estou certo de que minha morte virá como infarto. É de tanto experimentar com o coração, tratá-lo com levianidade, fazer questão de amar mais do que eles me amam. Sabia que eu perdi todos os que me sustentavam? Só sobrou a comida. E eu como tanta fritura, outro patamar da minha insuficiência cardíaca. Venham, agulhas. Mas venham tarde, só para amenizar a dor, que eu quero continuar dormindo no cano desse revólver.
A verdade constrói por hipertrofia? A cada dia que passa: estou vivendo ou morrendo? Se o conhecimento me leva a reconhecer-me mais alheia à consciência, eu quero possuí-la mais e mais, e no mesmo ritmo ela se torna distante e distante, eu me torno mais velha e velha. Ninguém é tão inocente quanto pode ser. A gente se faz de bobo até sentir que a corda está prestes a arrebentar. Daí a gente se enforca com sorriso no rosto.
Eu não faço questão de saber o que está acontecendo, eu faço questão é de que não venham me dizer o que pensar. Eu preciso fazer isso sozinho, eu preciso me tornar quem sou. A Natureza vai mostrando tudo o que me omitiram, ela vai se revelar nos bosques escuros, vai me assustar até eu perder o medo dos demônios. A escolha dela será a mais sensata, a mais violenta, a mais sincera.
É isso que eu quis dizer quando gritei que não queria paz.
A verdade constrói por hipertrofia.






leh_gomes@hotmail.com

9 comentários:

Maria Lucas disse...

Extremamente forte esse texto. Gosto deles assim. Uma das partes que mais gostei foi a que dizes que "minha morte virá como infarto. É de tanto experimentar com o coração, tratá-lo com levianidade, fazer questão de amar mais do que eles me amam."
Genial.
Acabei de descobrir a causa da minha também. Voltarei mais vezes aqui. Bjs

Mari Mari disse...

Mesmo que eu tente, acho que não vai rolar descreve o que senti lendo o seu texto. De verdade. No primeiro parágrafo, parecia que era eu escrevendo. Até o último, seu estilo se diferenciou do meu, mas foi justamente sua escrita única que tornou seu texto ainda mais genial.

Brunno Lopez disse...

Uma estrutura lexical pontual e autêntica. Não bastasse a atrofia de novos adjetivos, as mãos então ofereceram o oposto do esperado, a hipertrofia estrutural.
Essa obra de verdades teve a sorte a engenharia que escolheu. O material é de ótima qualidade e certamente sobreviverá aos cataclismas de nossa geração.

Continue nessa abstração misturada com traços de realidade. Funciona bem.

Wellington disse...

\o/

Ariana Coimbra disse...

A gente morre um pouco a cada dia mas vive mais também.
A vida é isso.

Beijos

L disse...

seu texto é incrível, dificilmente a gente consegue achar blogs interessantes hoje em dia, sua escrita nesse texto é maravilhosa !

Letícia Giraldelli disse...

Letícia, esse foi sem sobra de dúvidas o melhor texto que li teu.
É forte, sinto sua raiva, sua dor.
Estarei rezando por você e concluo que a FÉ também constrói hipertrofia!

Anônimo disse...

Cacho de bananas secreto.
Era uma vez, um conto de fadas mas nen tao de fadas assim. Era um garoto com varios garotos dentro, nao sabia se era joao ou dave, nao sabia se ria ou se chorava, e nen ao menos se amava ou morria.
Quanto mais pessoas tinha a sua volta, mais sozinho ele se sentia, quanto mais sobrio, mais sedado se sentia.
Era ossudo, robusto e vazio. Como seu criador arranjara tanto espaco para deixar vazio, nao se conhecia.
Nao sabia se era buraco negro ou super- nova. Usava roupas novas, mas palavras velhas, era nobre nas atitudes, mas plebeu em pensamentos.
Queria existir e depois desistir. Assistia tv, e nada. Ouvia musicas, e nada. Amava seus proximo e mais nada. Tinha medo de machucar os outros mas só queria ferir a si.
Ele queria ser somente um, mas sua mente permitira nenhum.
Vortex de pessoas, talvez um cidade inteira, dentro de um so lugar.
Queria fumar sem sentir o cheiro, gostava de poeira, poesia e grama, o que fazia o dia inteiro.
Ele continua em busca de seu jardim, em meio as despersonalizacoes, onde possa plantar e cultivar somente um jeito de ser.
Ora queria ser joao, ora era forcado a ser dave, mas nao podia deixar de ser dylan.
Aguardava noites e dias em claro, almejando a companhia da solidao.
As más linguas disseram que nao era solidao, pois nunca estava sozinho por dentro, dentro de seu proprio escafandro. Era ansioso demais para respirar.
O fogo que recentemente conhecerA, ele ja nao amava mais. Só o usava para se distrair e evitar dylan.
Como se cada eu fosse uma banana, era controlado por uma penca, e das grandes.
Queia escrever uma historia que mudasse o mundo, mas nao em prol da humanidade. Almejava seu egoismo somente para fazer o que gosta.
Diziam que ele vivia na borda, bem na borda da loucurA, ora queria escorregar para dentro, ora para forA.
Queria porque queria ser especial.
Ele sonha, mas sonha vagamente, com o dia cujo primeiro feixe de luz, das manhas geladas iria o concertar, era seu unico desejo na vida, nao ser estranho.

Unknown disse...

Você é uma das pessoas mais apaixonantes que tive o privilégio de encontrar nesse mundinho e ler um texto teu é navegar no teu universo único, perfeito, surpreendente e encantador (características que também são da srt. e que não conseguirias esconder nem que quisesses).
Tu tem um dom pra inscrever, indubitavelmente. Por favor, abençoe o mundo com mais textos como esse <3