quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Safer in the forest

We are what we are

Don't need no excuses
For the scars
From our mothers

And we know what we know
'Cause we're made of all the little bones

Of our fathers




     Eu poderia começar pelo começo.
     Quando você me paralisou através da tela. Destacada de tudo o que eu já vira, impossivelmente comigo. Até que me notou.
     Tirei minha roupa, mostrei meu rasgos, muitos dos quais você costurou, e muitos que não lhe deixei ver. A vida a dois é um esporte.
     Eu poderia começar pelo meio. Algumas rachaduras, a porta sempre aberta, minha entrega e o medo terrível de você partir: porque jamais fui assim, tão cara lavada, tão selvagem, tão humana. Você apertava um botão e minha vida nas suas mãos. E algum zumbido me visitava, hora ou outra. É. Mas eu não quis procurar o vespeiro.
     Eu poderia começar pelo fim. Pela quebra de ritmo, os móveis apodrecidos, enquanto tantos outros cômodos jamais foram habitados. O simples viver e me deparar com coisas cotidianas carrega os holofotes até você: um kit colorido de papelaria, um esfoliante labial sabor pipoca, um pirralho caçando pokemon.
     Mas eu não sei por onde começar.
     Não consigo me redimir, e deve ser microscópica a importância que você dará a esses remendos. Não lhe interessa mais, já está manchado, já vou me retirando. E devo calar logo! Não quer me ver.
     Sou toda errada, disso eu sei, incendeio tudo o que vejo pelo caminho. Pelo menos estou em busca do que me estimula, e dessa vez me coloquei como mais importante. Eu me queixei, como mais eu me explicaria? E tomei a decisão em última instância, nenhum golpe foi calculado, menos ainda mirado em você.
Eu
nunca
tentaria
te atingir.
     Eu te vejo daqui, de lá, do passado e do futuro, você é inegavelmente nobre; apesar de não saber lidar. Não te culpo... também acreditei nas promessa.
     Fique esclarecido que nada manipulei, não ordenei as cartas nem ensaiei desencontros. Foi tudo cru, novo, e eu sinto muito. I really do.
     Eu poderia terminar por aqui.



a ser continuado

2 comentários:

Luiz Carlos Sahge disse...

Foi muito intrigante ler isso! nem sei ao certo como te cumprimentar...

Os olhos dançam por suas letras, quase como se voce tivesse desenhado com palavras (e não com tintas) as cores diáfanas de um sonho meio perdido de que eu estava certo haver me esquecido.

Que curioso reconhecer sensações próprias em escritos de outra pessoa...
Isso por si só, me deixa em débito para com você, porque ao te ler, refiz fôlego em sentidos que eu pensei ter perdido em alguma esquina do mundo... Com o sonho cujas sensações revi em seu desenho literário.

:)

Kristal disse...

Que palavras mais ritmadas e assertivas, Letícia.
Como sempre você espontaneamente usa uma musicalidade que não sei ao certo de onde vem (da alma, seria)? E que parece correr tão espontânea pelos seus dedos como só correm as palavras das pessoas sensíveis e talentosas em mostrar ao mundo, com beleza e sinceridade, seus sentimentos mais íntimos.

Que linda sua visão!