terça-feira, 2 de janeiro de 2018

trancada do lado de dentro quando saio de casa

gente que vê briga em todo lugar
sou essa gente
levo a briga dentro de mim e tudo está brigando
depois tudo está pedindo desculpa
depois vem o sono
quando esqueço o que aprendi
acordo observando pela primeira vez e vem 
a briga

você já ouviu uma frase assim
     o que seria do azul sem o amarelo
uma coisa só ganha definição 
     por seu oposto
sei que faz calor pois já fez frio
sei que morrerei porque nasci e assim em diante não é necessário tornar este                                                                                estorvo a linha mais longa 
  está tudo bem
o equilíbrio está aqui
  em algum lugar
por baixo de cinquenta e dois anos de mim
quando despertarei velha e
nossa 
nem precisava de tudo isso

sento para meditar
    as costas doem, deito para meditar
sinto vergonha da cena que sou
   no pontapé dos vinte frequentando quiropraxista
deveria estar meditando mas estou pensando
   e se alguém me visse assim
mas não há absolutamente 
     (ninguém no meu quarto)
           ironicamente qualquer um que leia isso estará agora em meu quarto 
        vendo-me em posição duramente pior do que deitada
     chocando as inflamações num ovo de nervos 
   que o quiropraxista irá quebrar
e pela cabeça dele nunca passará que medito
porque sou uma mulher sou uma menina uma garota sei lá
eu sou esse troço comedido impulsivo
dolorido

reclamo que reclamo demais
peguei birra de negatividade
assim engrosso meu inimigo com ares de indiferença evoluída
  falo mal de quem fala mal 
é tão revolucionário quanto uma cadeira ao pé de uma mesa
quando vejo as palavras já saíram quando vejo 
não disse nada            
          
arrumo os dias como se fossem um cômodo
aqui, nas segundas, ficam o mercado, o combustível e uma porção de coisas que não conto          
             não por serem pessoais mas por serem completamente desinteressantes
como um curso de bolos espatulados que ando fazendo ou
             cortar o fio comprido esquecido em minha cabeça pelo cabeleireiro (caríssimo)
   nas terças, academia, ler até a página duzentos, assim em diante
além das tarefas cotidianas que todo dia se devem ter por feitas como
                                                                                                  banho                                   refeição passeio do cão rir ajudar beber água 
                                                                 fazer uma oração 
mas os dias estão fartos de mim
(rotininha)
saem voando pela janela porque preferem o sol das 19:48
deixam-me com uma luz de mentira que brilha errado
então visto-me em roupa de refletir luz ainda pior e
                        vou
                                            trancada do lado de dentro quando saio de casa

acho que preciso de mais cinquenta
  (e dois)
  (anos)
de combate comigo para perceber que
  as coisas às quais dou importância 
     não importam mais do que aquelas que ignoro
         essa metade de metade de vida
              é o lado bom de uma coisa ruim
ou o lado ruim de uma coisa boa como eu disse tanto faz
                 e vai escapar antes que eu possa segurar
          vai sair antes que eu raciocine o rastro
    antes que eu possa vencer 
vai passar


Um comentário:

Brunno Lopez disse...

Ouso dizer que foi a melhor coisa que li em 11 dias de janeiro.